domingo, junho 27, 2004

Alguém aí?


Enquanto este país vê as vitórias da seleção, e nos dias seguintes revê esses mesmos jogos (eu cada vez admiro mais o Felipão, pela capacidade que ele tem de acreditar e de levar os outros a acreditar junto com ele...), o Governo deste país vai mexendo.
Ainda não entendi muito bem o que se está passando.
Recapitulando.
Dia 13, tivémos as eleições para o Parlamento Europeu. A coligação que sustenta este Governo obteve menos votos que o maior partido dessa mesma coligação havia obtido nas anteriores.
(Mas ao que parece, todos os partidos que estão no governo, por essa Europa fora, enfrentaram o mesmo problema).
Depois disso, foi aprovada uma Constituição para a Europa.
Entretanto, é necessário um Presidente para a Comissão Europeia.
Nunca anteriormente referido, eis que surge o nome de Durão Barroso, Primeiro Ministro deste país, como elegível para o cargo. Porquê? Não pelas suas qualidades, mas sim pelas suas não-qualidades! Qualquer juízo de valor é subjetivo, mas parece que ele é o menos mau dos possíveis. Havendo rivalidades antigas dentro deste continente, um português neste cargo parece ser uma solução suficientemente inócua para agradar a alguns e não desagradar aos restantes.
Para Durão Barroso, se aceitar (já aceitou? ainda não entendi direito...) é a fuga de um governo problema: sem soluções mágicas para a situação criada a 13, e com necessidade de mexer nos seus ministros para dar a ilusão de viabilidade ao seu projeto, larga a situação sem se queimar. E como este povo tem a memória curta, daqui a uns anos pode regressar com uma imagem ainda "limpa".
E agora, o que vai acontecer?
Bem, o que parece mesmo é que vamos ter de derrotar a Holanda para chegarmos à final...

sexta-feira, junho 25, 2004

Algarve


Aqui estou eu numa semana de intervalo de minha rotina. Algarve. Quase um enclave britânico neste retângulo ibérico. E enclave perigoso num dia como o de hoje, em que jogaram as seleções de futebol de Portugal e Inglaterra. Ali por Albufeira, no momento em que escrevo, a GNR faz quase um cordão de segurança separando apoiantes ingleses dos apoiantes portugueses. Ao que parece, as provocações são mútuas e convém que as coisas não degenerem em confrontos mais violentos...
De resto, tudo calmo por aqui. Estando num hotel, as reações dos vizinhos não são tão imediatas (mas eu ouvi alguns gritando quando a nossa equipe marcou seu primeiro gol...). Lá mais ao fundo, num dos bares da praia, alguém decidiu lançar algum fogo de artifício, daquele que os americanos costumam comprar para o seu 4 de Julho (será que este ano também teremos o nosso?).
A noite está calma. A lua já desapareceu do céu. O vento caiu e, se não é o mar que eu estou ouvindo ao fundo, é uma ilusão que eu tenho...

sexta-feira, junho 18, 2004

Antes da festa...


Quando joga a seleção, este país pára...
Ontem, antes de vir para casa, ainda passei na FNAC para comprar o DVD do "Finding Nemo". Gosto do filme (acho até que não há nenhum filme da Pixar de que não goste...) e, por vezes, até me identifico com o Marlin, o pai do Nemo. Mas como eu dizia, passei na FNAC. Devia faltar cerca de uma hora para o início do jogo Portugal-Rússia. As ruas estavam quase desertas. Desertas de peões, porque o trânsito estava intenso (mas pouco caótico para aquela hora). Lisboa parecia uma pacata cidade de província (bem, não andaremos muito longe da verdade...) ao entardecer. Lembrei-me do Cesário enquanto subia a Rua Nova do Almada: "Nas nossas ruas, ao anoitecer/ Há tal soturnidade, há tal melancolia,/ Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia/ Despertam-me um desejo absurdo de sofrer." Bem, não me apetecia sofrer, mas mesmo assim lembrei-me do Cesário. Na FNAC, havia quase um equilíbrio perfeito entre funcionários e clientes: um para um. Comprei o DVD e saí. Ainda bebi um café (apenas três clientes ocupavam duas mesas) antes de ir para o metrô. Receei não conseguir entrar, pois tinha que vir na linha que serve o Estádio da Luz (onde se desenrolou o jogo), mas me enganei. Perfeitamente frequentável... E gostei do que vi. Famílias inteiras, vestidas a rigor com as cores nacionais (até com cachecol!!!) e com bandeiras. Franceses. Estes, talvez fossem filhos de emigrantes. Eram quatro e, em conjunto, com suas camisas formavam a palavra Portugal (cada um tinha duas letras). E brasileiros. Com a camisa da seleção portuguesa e também com bandeiras. E achei bonito. Gosto de ver estas tribos do futebol. A tribo nacional é um pouco atípica mas é isso que, neste momento, lhe dá mais brilho...
Até quando irá durar a festa?

quarta-feira, junho 16, 2004

Sonhos


Hoje, sonhei...
Não sei se sonho frequentemente, pois dificilmente me lembro do que se passou durante a noite depois de acordar. Mas desta vez, como acordei logo de seguida, retive alguns pormenores.
Creio que foi um daqueles sonhos vividos quase acordado. Recordo que era noite. Não chovia. Estava num lado da rua e tentei atravessar para o outro lado. Entretanto, os candeeiros do outro lado da rua se apagaram e esta começou a se alargar, alargar, e parecia não me permitir chegar ao outro lado. Entretanto, os prédios que existiam desse lado da rua desapareceram e, na escuridão, surgiu um campo.
De repente, todo o chão surgiu molhado, como se tivesse chovido. Não conseguindo chegar ao outro lado, regressei ao lado de cá. E entrei numa viatura, sem assento, sem volante e apenas com dois pedais. Bem, não tinha volante mas tinha uma alavanca que permitia dirigir. E depois já não era mais noite. Mas também não era dia. E estava num lugar onde, para passar de um lado para outro, tinha que passar por dentro das casas, e dos jardins, e dos quintais. O terreno estava molhado mas não havia lama. E havia gente. E eu falava com toda a gente. Não me recordo dos rostos.
Engraçado, como na recordação dos sonhos, normalmente, os rostos surgem sempre difusos...

segunda-feira, junho 14, 2004

Europa


Hoje (13 de Junho) foi dia especial aqui neste continente. Aliás, desde 5ª feira. Vinte e cinco países votaram para eleger seus representantes no Parlamento Europeu (PE). Portugal elegeu vinte e quatro eurodeputados dos setecentos e muitos que compõem este Parlamento. E claro, agora, todos fazem as suas leituras dos seus resultados. Sempre vitórias! Mas a única verdadeira vitória foi a do Bloco de Esquerda que, finalmente, conseguiu eleger seu deputado para a Europa.
Engraçado que, tendo passado toda a campanha trocando "piropos", falando de assuntos da "paróquia", e esquecendo, afinal, a importância que as decisões do PE têm aqui no retângulo, quem perdeu (e aqui falo da coligação que está no governo, que obteve menos votos que nas últimas "euroeleições") pretende agora dizer que, afinal, estas eleições eram apenas para escolher deputados europeus...
Certamente, mais logo, uns vão começar a exigir a demissão do governo e este vai passar a jogar na defensiva, rezando para que a seleção de futebol vá avançando (pois, perdeu no seu primeiro jogo contra a Grécia...) na eurocopa e as férias de Verão façam esquecer os problemas...
E ainda na eurocopa, os ingleses perderam para a França já em período de compensações, tendo Zidane transformado a derrota por um a zero em vitória por dois a um... uma verdadeiro balde de água fria num dos dias mais quentes do ano (até agora...). Croatas e Suiços empataram a zero.

domingo, junho 13, 2004

Fernando


Sendo hoje dia 13 de Junho, não poderia deixar em branco o nascimento, neste dia, de um génio: Fernando Pessoa. De seu nome completo Fernando Antonio Nogueira Pessoa, o Antonio surge precisamente por haver nascido em dia de Santo Antonio, santo do coração de todos os lisboetas (sim, porque o padroeiro de Lisboa é São Vicente, correndo este ano 1700 anos sobre o seu martírio).
Não vou dizer mais sobre o Poeta (muito foi dito já, muito mais irá ser dito ainda). Mas deixo aqui um conjunto de poemas, não publicado na revista "Orpheu 3".

"ALÉM-DEUS


I

ABYSMO

Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E subito isto me bate
De encontro ao devaneando -
O que é ser-rio, e correr?
O que é estal-o eu a ver?

Sinto de repente pouco,
Vacuo, o momento, o logar.
Tudo de repente é ôco -
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo - eu e o mundo em redór -
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéa, alma de nome
A mim, á terra e aos céus...

E subito encontro Deus.


II

PASSOU

Passou, fóra de Quando,
De Porquê, e de Passando...,

Turbilhão de Ignorado,
Sem ser turbilhonado...,

Vasto por fóra do vasto
Sem ser, que a si se assombra...

O universo é o meu rasto...
Deus é a sua sombra...


III

A VOZ DE DEUS

Brilha uma voz na noute...
De dentro de Fóra ouvi-a...
O' Universo, eu sou-te...
Oh, o horror da alegria
D'este pavor, do archote
Se apagar, que me guia!

Cinzas de idéa e de nome
Em mim, e a voz: O' mundo,
Sêrmente em ti eu sou-me...

Mero echo de mim, me innundo
De ondas de negro lume
Em que pra Deus me afundo.


IV

A QUEDA

Da minha idéa do mundo
Cahi...
Vacuo além de profundo,
Sem ter Eu nem Alli...

Vacuo sem si-proprio, chaos
De ser pensado como ser...
Escada absoluta sem degraus...
Visão que se não pode ver...

Além-Deus! Além-Deus! Negra calma...
Clarão de Desconhecido...
Tudo tem outro sentido, ó alma,
Mesmo o ter-um-sentido...


V

BRAÇO SEM CORPO BRANDINDO UM GLADIO

Entre a arvore e o vel-a
Onde está o sonho?
Que arco da ponte mais vela
Deus?... E eu fico tristonho
Por não saber se a curva da ponte
É a curva do horisonte...

Entre o que vive e a vida
Pra que lado corre o rio?
Arvore de folhas vestida -
Entre isso e Arvore ha fio?
Pombas voando - o pombal
Está-lhes sempre á direita, ou é real?

Deus é um grande Intervallo,
Mas entre quê e quê?...
Entre o que digo e o que calo
Existo? Quem é que me vê?
Erro-me... E o pombal elevado
Está em torno na pomba, ou de lado?"

sábado, junho 12, 2004

Ninguém é profeta...


...em sua terra.
Por aqui, se vive uma febre, uma intensa febre. E essa febre tem nome: futebol. Pela primeira vez, Portugal organiza uma Eurocopa. E depois disso, fruto de uma qualificação muito suada, essa febre se vai prolongar pelas Olimpíadas.
Mas esta eurocopa está fazendo mexer este país. Não sei se por um bom ou mau motivo, mas este país está mexendo. Todo o mundo tem andando deprimido há já bastante tempo. Demasiado tempo. Na prática, desde que este governo tomou posse e o primeiro-ministro disse que o país estava de tanga. Dois anos. É muito tempo. A recessão também não ajudou e os acontecimentos internacionais ainda menos.
E chega a eurocopa. E como selecionador do time português temos Luis Felipe Scolari, Felipão. E eu, sem me ligar muito nestas coisas da bola, gosto dele. Porquê? Porque é um otimista. Eu sei que um otimista é um pessimista mal informado, mas sabe bem ouvir um discurso positivo de quando em vez. E o Felipão tem esse discurso. E esse discurso não é apenas com o time que ele treina, é com este povo, este povo português. E de repente, conseguiu que todo o mundo se sentisse um pouco mais português! Pediu uma coisa simples: "para apoiar a seleção portuguesa, pendurem bandeiras em vossas janelas". Bem, não sei se as suas palavras foram mesmo estas mas, de repente, a bandeira portuguesa virou moda!
Se vende em qualquer esquina (o pessoal - daquela seita em que são todos iguais e todos dizem o mesmo: "qué frô? qué frô?" - que vendia flores se reconverteu e também já vende bandeiras), já está pendurada em quase todas as janelas e mesmo muitos carros não dispensam sua bandeirinha.
Claro que muito produto que se vê pendurado apenas tem semelhança com o original: os besantes (os círculos brancos dentro das quinas) se transformam em simples pontos ou em escudos ou, pasme-se, em cruzes! E até os castelos (que são sete e se assemelham às torres de um jogo de xadrez) vão tendo suas formas mais ou menos estilizadas, chegando à forma de pagodes! Claro que aqui, o fato de 99% do produto ser fabricado na China talvez tenha a sua influência...
Mas vou explicar agora porque decidi escrever este texto: acho que a depressão, se não está acabando, está acalmando. Claro, se Portugal não ganhar essa copa, a ressaca vai ser grande. Mas aí, como disse de início, ainda temos Atenas. De início, estava achando que esse negócio de pendurar bandeirinha na janela era uma completa bobagem. Mas depois de ver uma, duas, dez, uma rua inteira, várias ruas, com bandeiras ao vento... achei bonito! E aí pensei: pô, está um primeiro-ministro, todo um governo, até o Presidente da República dizendo que isto está melhor e ninguém acredita (e quem acredita em conversa de político?). Chega um treinador de futebol, estrangeiro (oh, mas esta nossa língua comum ajuda tanto...), pedindo apoio à seleção de uma forma simples (uma simples bandeira) e, de repente, começamos a acreditar! Em quê? Que é possível! Que basta acreditar que é possível para que seja mesmo possível!!!
O futebol pode ser ilusão, mas sonhando...

quinta-feira, junho 10, 2004

Mais Rubem



"O que dá prazer e desprazer não são as coisas, mas as palavras que nelas moram. Como Zaratustra sugeriu, o que torna as coisas agradáveis são os nomes e os sons que lhe são dados." (p. 74)

"Deus pronuncia a Palavra e um universo aparece, como objeto de amor: um jardim, paraíso.
E ali a beleza toma uma forma humana: mulher e homem, imagem de Deus, espelho de Deus.
O que é um homem? Um homem é um vazio, o desejo por uma mulher.
O que é uma mulher? Uma mulher é um vazio, o desejo por um homem.
Eles são aquilo que não são...
A Palavra é masculina: a fala se projeta como falus, eleva-se e penetra, a fim de dar prazer e engravidar.
Pela palavra introduzo meu sêmen em outro.
O ouvir é feminino. O ouvido é um vazio, concha, um convite à palavra que lhe trará prazer e vida.
Mas a separação anatômica dos sexos é mais que um acidente biológico. Homem e mulher, sem separação e sem confusão, como no dogma cristológico, imagem de Deus. Perda eterna, desejo eterno. Deus é masculino e feminino, pai e mãe, homem e mulher, desejo do outro.
Aqui está a tragédia de Narciso: ele não desejava o que não tinha. Nele não havia vazios. Ele não podia sonhar... Nosso segredo é a androginia... A felicidade não é o prazer; é reunião com o objecto-espelho que reflete a ausência que em nós habita." (p. 77)

"Saudade: um nome que só pode ser pronunciado diante do Vazio..." (p. 71)

Se já entendi o que estou lendo? Vou ruminando...

Ilusão



Hoje, no meu caminho para casa, me dei conta de um edifício em completa ruína. Mas ainda com três paredes em pé e sustentadas por uma estrutura externa até ao seu quinto andar. Meu coração deu um baque e um pensamento atravessou meu espírito: esse edifício sou eu! Eu sou assim...

quarta-feira, junho 09, 2004

Palavra



Descobri Rubem Alves aqui nesta minha atividade blogueira. Desde então, me fui cruzando com ele. Neste momento, ele é minha leitura de metrô. No bolso interior esquerdo do meu blusão de ganga (agora faz calor para andar de blusão mas... necessito dos bolsos para espalhar documentos, livros, tabaco...), sobre o coração, a minha companhia agora é "Lições de Feitiçaria - meditações sobre a poesia", das Edições Loyola. Como diz o autor, este é um texto para ser lido "vagarosamente, bovinamente, como quem pasta, como quem rumina..." (p. 14).
Nesta ruminação, me vou deparando com novas idéias, novas formas de ver. E como este espaço se chama Amnésia, descobri uma frase que pode ajudar a (re)enquadrar este mesmo espaço:
"É preciso esquecer a fim de lembrar,
É preciso desaprender a fim de aprender de novo..." (p.39)
E estas palavras surgiram na sequência de uma citação de Alberto Caeiro. Fui pegar no "Guardador de Rebanhos", tentando encontrar o poema completo. Mas foi este o poema que me escolheu. Pensando em janelas, transcrevo o poema III:

"Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo por cima dos olhos que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O Livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas pessoas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E vê que está a reparar nas flores que há pelos campos...

Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarras..."

Mas de que trata este livro de Rubem Alves? Não sei ainda. Se já soubesse, logo no início, de nada serviria continuar...

domingo, junho 06, 2004

What's wrong?



Terei eu, por segundos, atravessado um portal para outra dimensão?
A cena foi à entrada de um hotel. Um táxi parado. O cliente já saiu. O chófer sai e o ajuda a retirar a mala da bagageira. Até aqui, quase normal. E de repente, a cereja no topo: "Have a nice stay, sir". Quê? Palavras simpáticas? E em inglês? Terei ouvido bem? Neste país? Onde é que isto irá parar? Não tarda, um destes dias estarão escolhendo sempre o trajeto mais curto e cobrando o valor da bandeirada...

sábado, junho 05, 2004

Serei eu?






Faça você também Que
gênio-louco é você?
Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia


terça-feira, junho 01, 2004

Aleixo II



Conforme prometido, aqui junto mais algumas quadras de António Aleixo...

«Uma mosca sem valor
poisa, c'o a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.»

«Fala quanto te apeteça,
mas desculpa que eu te diga
que te falta na cabeça
o que te sobra em barriga.»

«Meu aspecto te enganou;
o que a gente é não se vê;
pergunta a outrem quem sou,
pois o que sou nem eu sei.»

«Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
porque ninguém traz na testa
o selo de quanto vale.»

«Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão, mesmo vencida,
não deixa de ser Razão?»

«Eu não sei porque razão
certos homens, a meu ver,
quanto mais pequenos são
maiores querem parecer.»

«De te ver fiquei repeso,
em vez de ganhar perdi;
quis prender-te, fiquei preso,
e não sei se te prendi.»