quarta-feira, fevereiro 23, 2005

E chega um dia...
Chega um dia em que passamos a ter os nossos mortos.
Chega um dia em que sabemos que "nunca", afinal, é uma palavra possível.
Chega um dia em apenas conseguimos ver com os olhos fechados.
Chega um dia em que encontramos frio quando buscamos calor.
Chega um dia em que só o eco de uma casa vazia nos responde.
Chega um dia em que a memória vem sempre embrulhada em lágrimas.
Chega um dia em que os desejos são todos saudade.
Chega um dia em que não desejamos acordar...

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

O país mudou de cor: agora é rosa.
A vitória do Partido Socialista é histórica: 120 deputados! Maioria absoluta.
Outra vitória histórica: a do Bloco de Esquerda. Passou de 3 para 8 deputados! Quase triplicou a sua representação! Significa isto que a sua responsabilidade também é maior!
Como será o futuro? Não sei. Mas um fato ainda há a registar: a abstenção. Não recordo quais os valores em anteriores eleições, mas hoje situou-se apenas em 35%. Eu vi que havia mudança no comportamento dos eleitores quando fui votar. Habitualmente, vou sempre antes de almoçar, por volta das três da tarde. Nas últimas eleições, na minha seção de voto, encontrava apenas uma ou duas pessoas esperando. Hoje, tinha uma fila que me obrigou a ficar cerca de dez minutos aguardando até poder pôr a minha cruzinha no boletim de voto. Confesso ainda que fiquei surpreendido com a quantidade de opções. Como desde início já sabia qual a minha opção, não liguei à campanha eleitoral. Assim, ainda hoje não sei o que propunham os outros partidos e movimentos que ali estavam representados.
E Pedro Santana Lopes, atual Primeiro-Ministro? Disse que a culpa era dele. Mas não bateu com a porta (ao contrário de Paulo Portas, seu companheiro de coligação). Disse que haveria Congresso e que depois se veria...
O futuro, mais uma vez, começa hoje...

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Hoje, minha filha me deixou sem palavras.
Já estava deitada, com o quarto às escuras. A caixinha de música (ela gosta sempre de ouvir a caixinha de música antes de adormecer) já se havia calado.
Em voz muito baixinha, sussurando, pergunta:
- Papá? Eu não me lembro da voz da mamã. Como era a voz da mamã? Eu lembro-me dela das fotografias, mas não me lembro da voz. Como era a voz da mamã?
- Pronto, querida, agora é para dormir...
- Papá, com era a voz da mamã? Eu não me lembro...
- ...