segunda-feira, setembro 12, 2005

Jorge de Sena

Hoje, enfim, ontem, se passou mais um 11 de Setembro. Enquanto escrevo, tenho a TV ligada na MTV, onde grupos musicais vão desfilando no projeto “React Now”, para apoio às vítimas do furacão Katrina. A precariedade da vida humana cada vez mais me faz pensar sobre o sentido de tudo isto. Afinal, que estamos nós fazendo aqui?
Mas hoje não quero seguir por aqui.
Ontem, resgatei de casa de meus pais um livro de Jorge de Sena: “40 anos de servidão”. Sena, poeta já falecido há quase 30 anos, viveu em exílio grande parte de sua vida.
De acordo com o prefácio de sua viúva, Mécia de Sena, a servidão do título se refere à servidão poética.
Aqui transcrevo alguns dos poemas integrando esse livro.

“DÍSTICO

O viver que grita muito não diz nada.
A morte ao dizer tudo é bem calada.

8/7/38”

“«DRUMMOND FAZENDEIRO»

Drummond, fazendeiro
do ar, mas bem sentes
que as dores da poesia
são as evidentes.

8/2/55”

“«NEL MEZZO DEL CAMIN»

          I

Quarenta e dois… Provavelmente já
vivi mais de metade a minha vida.
Provavelmente até, em mim escondida,
não como inevitável, mas guarda-

do fim com que termina tudo, está
a morte a me roubar da consentida
afirmação de que se finge a vida.
Provavelmente, não verei o que há

Além do tempo que me é dado. Não
assistirei às pompas da vitória.
Mas, se eu morrer de raiva, como cão

a que é negada a própria liberdade,
provavelmente não terei memória
de quanto a vida só me foi saudade…

          II

…de tudo, sim. Não me contento nunca.
Não me contentarei. Mesmo que eu visse
mordendo a lama a secular canalha,
dona de tudo; e mesmo que ainda visse

liberta e justa a sórdida espelunca
de bancos e palácios, catedrais,
em que a arrogância dela se esparralha
- não me contentaria. Porque há mais

que mesmo dessangrados não vomitam:
os séculos roubados e mentido,
os corpos mortos de prostituídos,
o esgar humano com que humanos fitam.
E nem morte nem vida podem mais
do que apagarem sem deixar sinais.

30/1/62”

“NO PAÍS DOS SACANAS

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para fazer funcionar fraternamente
a humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.

10/10/73”

sexta-feira, setembro 09, 2005

Emoção

Hoje foi um dia de emoção. Melhor, um fim de dia, pois o sol já se havia posto e as estrelas iam surgindo no céu: levei minha filha para comprar a mochila para seu primeiro dia de escola. De escola a sério e não de escolinha. Mochila para carregar, ou melhor, puxar (é mochila com rodinhas) os livros, cadernos, canetas...
Com as aulas começando, um destes dias será o milagre: as letras que se juntam passarão a fazer sentido e a formar palavras.
Palavras que terão significados.
Palavras que não quererão dizer nada, enquanto não ficarem ligadas a alguma coisa.
Palavras que serão ideias.
Palavras que formarão frases. Que poderão fazer ou não sentido.
Frases que formarão textos.
E, de repente, é a entrada numa nova dimensão e mais um passo para a independência: já não precisará mais da ajuda de alguém para ler as estorinhas…

quinta-feira, setembro 08, 2005

"The Life Aquatic with Steve Zissou". Filme de Wes Anderson.
Ainda não vi. Comprei hoje o DVD e lancei-me de imediato aos extras. O primeiro extra explorado, a colaboração de Seu Jorge. David Bowie (e não só) em versão acústica e cantado em português. Depois, o reencontro com Mark Mothersbaugh. Quem? Este Mark, autor da trilha sonora, era um dos quatro DEVO! As coisas que eu aprendo...
E como já é tarde, não vi nada mais.
Só vim aqui dar mais um fôlego à minha amnésia...

quarta-feira, setembro 07, 2005

Terminaram as férias. E o verão também, ao que parece.
Regressando ao trabalho, talvez o meu blog avance melhor...
Bem, aqui vai a tarefinha que Deize, lá do Rosa Choque, me deixou...

Melhores filmes dos útimos anos. Difícil... Bem, "Lost in Translation" deixou marcas. Na animação, "Spirited Away", de Hayao Miyazaki; "The Emperor's New Groove" e "The Incredibles".

O filme da vida? Apesar da minha (quase) provecta idade, creio que ainda não vivi o suficiente para eleger um filme em tal categoria. Mas o "Blade Runner" está em muito boa posição. O "Top Gun", não pelo filme em si, mas pelo ambiente em que foi visto algumas dezenas de vezes também pode entrar nesta categoria. "C'est arrivé prés de chez-vous" (nem sei bem como se escreve...) também foi visto numa altura muito especial. Também pode entrar na contagem.

Atores com pujança? Aqui, coloco Harrison Ford e Humphrey Bogart. Ah, e Bill Murray...

Atrizes de mão cheia. Hum... Por vezes, acho meio complicado avaliar a qualidade interpretativa de uma atriz, me vou dispersando por outras qualidades... Talvez Susan Sarandon e, entrando na unanimidade geral, Nicole Kidman.

Musicais: "The Sound of Music", "My Fair Lady", "Kismet", "All That Jazz".

Realizadores com r grande: Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrik. E está incompleta...