Uma janela para Kafka
Faz algum tempo, fiquei sem janela. Devido a uma remodelação (e durante essa remodelação) tive que trocar de gabinete. Não foi fácil trabalhar num cubículo, enfrentando uma parede completamente branca. Terrível não saber se há sol ou se há chuva, se ainda é dia ou se já é noite. Felizmente, essa fase passou e recuperei minha janela sobre o Tejo...
Hoje, descobri este pequeno conto de Franz Kafka. A edição do livro, que reúne vários (todos?) contos dele, tem dois tradutores. Como não sei quem é o responsável pela tradução do conto que já de seguida irei transcrever, aqui deixo o nome dos dois: Nuno Batalha e Hugo Gomes.
«A janela para a rua
Quem quer que, levando de um modo geral uma vida solitária, deseje, de tempos a tempos, ter algo que o ligue a alguma coisa; quem quer que, por razão da altura do dia, do tempo que faz, do estado em que vão os negócios, e outras coisas do género, desejar ter um braço a que se agarrar - não pode passar sem ter uma janela para a rua. E ainda que não esteja com paciência para desejar coisa nenhuma e se vá sentar, cansado apenas, ao parapeito, com os olhos passeando entre a multidão e o céu, sem querer olhar para fora, de cabeça inclinada, os cavalos lá em baixo arrastá-lo-ão para o tumulto e corrupio das carroças, até que esteja, por fim, em harmonia com o humano.»
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