Dragões
No tempo em que os cavaleiros percorriam os caminhos montados em seus corcéis, no tempo em que nem sempre havia caminhos, no tempo em que os perigos se anteviam com o coração e se combatiam de espada na mão, a Terra era habitada por dragões.
Nas montanhas mais altas, no mais profundo das florestas, protegidos por nuvens e brumas, os dragões nasciam e cresciam em liberdade.
Por vezes, durante o dia, os pastores observavam seu voo nos céus.
Por vezes, durante a noite, os pastores julgavam ouvir seu rugido na floresta.
E contavam estórias. E contavam-se estórias de como esses dragões atacavam seus animais, de como dizimavam seus rebanhos.
Os dragões nada sabiam dessas estórias.
Alguns cavaleiros, desses de coração puro e corcel branco, pernoitavam junto desses pastores. E ouviam suas estórias de dragões. E se impressionavam com essas estórias de dragões. E prometiam luta a esses dragões.
Os pastores se entreolhavam e sorriam.
E os cavaleiros partiam.
Estação após estação, os pastores olhavam o céu. E já não viam dragões.
Estação após estação, os pastores olhavam a noite. E já não ouviam a floresta rugir.
E os pastores se começaram a contar estórias de como cavaleiros, de corcel branco e espada na mão, haviam derrotado os dragões. Todos os dragões. Todos?
A norte, muito a norte, onde os pastos vão rareando, onde os pastores vão rareando, onde as noites são longas, onde as noites são muito longas, há quem afirme ver nos céus os reflexos multicores do sol que arde no centro da Terra batendo nas longas asas dos últimos dragões...
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