Les Sardanes
Barcelona. A Catedral. Domingo de manhã. A caminho do terreiro frente à catedral, uma música meio estranha faz-se escutar. A temperatura está elevada. A sombra que a catedral lança sobre o terreiro parece que se vai recolhendo, empurrada que é pelo sol que brilha alto. E vê-se gente dançando. Uma dança de roda. Uma, duas, três rodas. Não mais. Sem sombra, o exercício torna-se difícil. E não são novos, os bailarinos. Um ou outro adolescente, mas praticamente tudo gente com mais de cincoenta. Alguns nos seus setenta. Homens e mulheres. Que bailam? Sardanas...
Todos os domingos pela manhã, junto à Catedral, no espaço fronteiro à sua entrada e, alguns degraus abaixo, no largo que está completamente vedado ao trânsito, grupos de pessoas de todas as idades se reunem para dançar. Podem ser amigos de longos anos ou perfeitos desconhecidos, mas todos podem fazer parte da roda. Dão-se as mãos e dançam. Ao som de um conjunto musical muito específico a que dão o nome de cobla, em saltinhos vão desenvolvendo os seus passos.
Considerada a dança nacional dos catalães, sendo aparentemente simples, a dança requer que um elementos da roda a conduza, isto é, que conte os compassos, de modo a conhecer em que pé deverão finalizar o trecho que dançam e em que pé devem começar o seguinte. Sem descer a muito pormenor, todas as sardanas são compostas de 10 trechos (tirades), sendo 2 curtos (8 compassos cada), 2 longos (16 compassos cada), 2 curtos e 4 longos. Esta indicação de curtos e longos prende-se pois com os compassos e os passos dos bailarinos em cada um desses trechos. Diz-se que qualquer um entra quando quer, mas só pode sair no final da música.
Os meus conhecimentos musicais são limitados, de modo que me limito a transcrever a composição de uma cobla: temos um flabiol-tambor (o flabiol, espécie de flauta de som agudo, tocada apenas por uma mão, é o invariável convite à dança, ficando a outra mão reservada para tocar o tambor que marca o ritmo e vai introduzindo os diferentes temas melódicos), dois tibles, duas tenoras, dois trompetes, dois fiscornes e um contrabaixo. A tenora é o instrumento solista e é uma espécie de oboé, bem como os tibles. Estas coblas são compostas por homens e mulheres, de idades variadas, podendo nós ver adolescentes tocando ao lado de anciãos. Domingo a domingo, as coblas vão variando. Desconheço se se limitam à região de Barcelona ou se vêm mesmo de toda a Catalunha.
Para terminar, um poema de Joan Maragall sobre as Sardanas:
"La sardana és la dansa més bella
de totes les danses que es fan i es desfan;
és la mòbil, magnífica anella
que amb pausa i amb mida va lenta oscillant.
Ja es decanta a l'esquerra i vacilla,
ja volta altra volta a la dreta dubtant,
i se'n torna i retorna intranquilla
com mal orientada agulla d'imant.
Fixa's un punt i es detura com ella...
Del contrapunt arrencant-se novella
de nou va voltant.
La sardana és la dansa més bella
de totes les danses que es fan i es desfan."
A dança acabou, mas Barcelona continua...
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