domingo, outubro 10, 2004

Marcelismo


Cada vez mais, este país se parece com aquilo que nunca parece ter deixado de ser: uma choldra...
Em Portugal, existe um professor de Direito que está na política “desde sempre”. Umas vezes como ator, outras como analista. Já foi líder do partido que está agora no Governo (o PSD) e, após ter abandonado a liderança desse partido, fazia análise política numa estação privada de TV (a TVI) há mais de quatro anos. Este professor se chama Marcelo Rebelo de Sousa.
Pois na segunda-feira, o Ministro dos Assuntos Parlamentares (desta vez, talvez dos “Assuntos Para Lamentar”), em plena Assembleia da República, o nosso Parlamento, acusou-o de “destilar ódio ao primeiro-ministro e ao governo” [transmistindo sistematicamente] “um conjunto de mentiras com desfaçatez e sem qualquer vergonha”. Isto foi dito por um ministro.
As críticas de Marcelo eram ajustadas? Eram exageradas? O professor Marcelo criou um estatuto especial na política. Não fazia simples análise. Criava (bem, falo no passado porquê?), cria cenários, analisa-os, e sobre isso vai discorrendo. Perturba, por isso mesmo. Se torna incómodo a quem está no poder (qualquer que seja o partido) e tem responsabilidades no governo deste pequeno retângulo.
Pois depois da intervenção do ministro (não me recordo do nome dele), o patrão do grupo que possui a TVI teve uma conversinha com ele e, desde então, Marcelo disse que terminava a sua colaboração habitual dos domingos.
Este fato levou a que, desde a oposição até elementos mais críticos do seu partido (que, recordo, está no poder), se falasse de perigosa ingerência na pluralidade de informação. Resumindo: a censura está aí.
Sem Justiça (uma vez que os Tribunais não funcionam), com “censura” no ar, será que ainda se pode falar num Estado Democrático? Trinta anos depois da Revolução, o conceito de Democracia parece ainda se resumir a colocar um papelinho com uma cruz dentro de uma caixa de madeira, de tempos a tempos. Essa cruz escolhe uma de diversas opções. E a opção é feita entre os partidos que, em campanha, vão fazendo promessas que sabem não ir cumprir uma vez chegados ao Poder...
Isto não é a Madeira, com o seu famoso “défice democrático”, mas parece que aqui no continente é um exemplo que parece querer frutificar...

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