Ainda o tempo. Mas hoje, sem Ferré.
Ontem, no suplemento Mil Folhas do jornal "Público", na rubrica "Vale e pena traduzir", Desidério Murcho faz referência à obra "The Philosophy of Time", organizada por Robin Le Poidevin e Murray MacBeath e publicada pela Oxford University Press.
Eu sei que "não há mais metafísica no mundo senão chocolates" e que "a metafísica é uma consequência de estar mal disposto", conforme refere o senhor Engenheiro Álvaro de Campos, mas achei curiosas estas coisas que os filósofos contemporâneos pensam sobre o tempo. Para os outros, nunca sobra ou corre lento. Para eles, existem teorias flexionadas e teorias não flexionadas.
Há quase 100 anos (em 1908), o senhor McTaggart, resumidamente, afirmou que: 1) o tempo envolve mudança; 2) só as formas flexionadas de expressão podem exprimir a mudança; 3) mas as formas flexionadas de expressão envolvem contradições. Logo, o que concluir? Que o tempo é irreal... O grupo das teorias flexionadas aceita a premissa 2 mas recusa a 3. Os das não flexionadas aceitam a 3 mas recusam a 2.
Se segue depois outra questão: o que é existir no tempo? Ao longo de nossas vidas, existimos só parcialmente em cada um dos dias que vivemos? Ou será que existimos completamente em cada um desses dias? Ou seja, quando conhecemos alguém, será que estamos conhecendo essa pessoa na totalidade? Ou estamos apenas conhecendo essa pessoa no fragmento do total que é esse momento? Davis Lewis (1941-2001) defendia que a cada dia, apenas estamos perante um "segmento temporal" desse sujeito. A essa perspectiva se dá o nome de "perdurabilismo". Por oposição, o "durabilismo" defende que os particulares existem completamente em cada momento do tempo.
Parece que existe ainda uma terceira questão central: poderá o tempo existir sem mudança? Os absolutistas dizem que sim. Os relacionistas defendem que o tempo não é coisa alguma além da mudança: não havendo mudança, não há tempo.
Para reflexão em dia de Santo Antônio...
Já o mestre Caeiro dizia que "há metafísica bastante em não pensar em nada".
E por falar nisso, em 1888 nascia aqui em Lisboa, no Largo de São Carlos, Fernando Antonio Nogueira Pessoa. Só para recordar...
segunda-feira, junho 13, 2005
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