domingo, novembro 28, 2004

Estrela


Hoje, graças a uma festinha de aniversário, foi um dia com três horas de "programa livre".
O dia começou triste e foi sempre triste até chegar a noite. O sol não brilhou um só minuto, sempre escondido atrás de nuvens cinzentonas. E ia chovendo, de quando em vez. Mas não era chuva a sério. Eram umas gotas, esparsas, que iam caindo aqui e ali e que não mereciam o esforço de abrir o guarda chuva. Neste cenário cinzento, com a noite antecipada, deixei minha filha na festinha e fui vaguear pelas ruas.
Cheguei a um enorme jardim, o Jardim da Estrela, e me fiquei pelo primeiro lugar coberto que encontrei, onde me pude sentar, beber um café, e ler um pouco. Aproveitei para continuar com a minha leitura de "Oracle Night", de Paul Auster.
Comecei por beber um café e acender um cigarro (aproveito para fumar sempre que estou longe da minha filha...). Depois, tirei o livro do bolso interior do blusão e comecei lendo. Lá fora, a noite chegava rápido, o que facilitava a concentração. E chegou uma altura em que não sabia se ainda estava em Lisboa, se estava em Nova Iorque ou em Kansas City. "Toto, I think we're not in Kansas anymore..." É o fascínio que nos trazem os livros. De repente, estamos, mas já não estamos.
Interrompi a leitura porque já estava sentindo frio. O Outono por aqui já vai refrescando.
Sábado, pouca gente se vê na rua. A animação está mesmo nos shoppings. Nas ruas, fracamente iluminadas, praticamente ninguém. Por algumas janelas ia escorrendo uma luz amarelada, que aumentava ainda mais a sensação de noite escura.
Esta zona de Lisboa é bastante antiga. Alguns prédios, com marcas de ruína, contrastavam com outros, também antigos, mas com sinais de obras de manutenção recente. A certa altura, me senti como se estivesse passeando num velho teatro fechado, por entre cenários abandonados. As (poucas) pessoas com que me cruzava eram atores em busca de um papel. Sem texto, sem conhecerem as suas marcações nem as suas deixas, vagueavam no palco. Não sei quem se sentia mais perdido, se eu ou eles. Lisboa ou Kansas?
A irrealidade do cenário era acentuada pelo contraste da Basílica da Estrela, iluminada, recortada contra o céu negro, que insistia em deixar cair as suas gotas de chuva.
Chegou depois a hora de ir buscar a filhota. A próxima festinha será já na quarta-feira. Talvez dê para vaguear durante mais umas horas...

Sem comentários: