Sophia, Fiama e Unamuno
Hoje trago mar. E três poetas: Sophia de Mello Breyner Andresen, Fiama Hasse Pais Brandão e Miguel de Unamuno.
O poema de Sophia, retirado de
O Búzio de Cós e outros poemas
“Beira-Mar
Mitológica luz da beira mar
A maré alta sete vezes cresce
Sete vezes decresce o seu inchar
E a métrica de um verso a determina
Crianças brincam nas ondas pequeninas
E com elas em brandíssimo espraiar
Em volutas e crinas brinca o mar”
Os poemas de Fiama, saídos de
Cenas Vivas
“Rias
O caminhar pela areia sem caminho,
indo ao sabor dos recortes e marinhas.
Ao sul ou norte de um país marítimo,
era um tempo passageiro esse
do caminhar pela areia sem caminho.
Baixa se estendia a água.
Deitada no chão, a sombra era bebida
por essa água pouca, areia ávida.”
“Leituras em Novembro
O mar bate como se o sopro
do separar das águas de novo
rasgasse a terra alcantilada.
Não o vejo, mas ao longe
oiço, no êxtase, o rumor
das ondas infinitamente.
Depis calamo-nos ouvindo
a voz interior apenas e pensamos
nos livros que consubstanciam
a separação entre a terra e a água.”
“Espaços
Todas as coisas e seres
são dados aos poemas e exigem estar.
Próximas paisagens distantes,
seres presentes.
Entre o aparo e a escrita.
Próxima, não a respiração
mas a presentificação das coisas,
infindos riscos.”
“Nuvens
Nuvens mostram-nos ao longe
a ficção de serem formas cénicas.
Mesmo rostos podem nascer ali
debaixo de madeixas claras.
Risos podem rasgar-se, entre
raios de sol e sombra. Essa,
por vezes, a vida frágil dos risos.”
(os poemas acima foram pilhados
daqui)
Acabando com Unamuno, retirado da sua
Antología poética
(Nota - como não consigo manter a mancha gráfica original dos poemas, faço o arranjo clássico de soneto...)
“XXXIV
La mar ciñe a la noche en su regazo
y la noche a la mar; la luna, ausente;
se besan en los ojos y en la frente;
los besos dejan misterioso trazo.
Derrítense después en un abrazo,
tiritan las estrellas con ardiente
pasión de mero amor y el alma siente
que noche y mar se enredan en su lazo.
Y se baña en la oscura lejanía
de su germen eterno, de su origen,
cuando con ellas Dios amanecia,
y aunque los necios sabios leyes fijen,
ve la piedad del alma la anarquía
y que leyes no son las que nos rigen.”
“LII
Dime qué dices, mar, qué dices, dime!
Pero no me lo digas; tus cantares
son, con el coro de tus varios mares,
una voz sola que cantando gime.
Ese mero gemido nos redime
de la letra fatal y sus pesares,
bajo el oleaje de nuestros azares
el secreto secreto nos oprime.
La sinrazón de nuestra suerte abona,
calla la culpa y danos el castigo;
la vida al que nació no le perdona;
de esta enorme injusticia sé testigo,
que así mi canto con tu canto entona
y no me digas lo que no te digo.”