quarta-feira, janeiro 14, 2004

Hoje, um livro veio ter comigo. Andava procurando uma coletânea de poesia da Christina Georgina Rossetti (irmã do pintor Dante Gabriel Rossetti) que tinha visto antes do Natal, na FNAC. Desapareceu. Talvez volte um destes dias...
Christina Rossetti é autora daquele poema "When I am dead, my dearest," poema de morte mas não poema triste...

"When I am dead, my dearest,
Sing no sad songs for me;
Plant thou no roses at my head,
Nor shady cypress tree:
Be the green grass above me
With showers and dewdrops wet;
And if thou wilt, remember,
And if thou wilt, forget.

I shall not see the shadows,
I shall not feel the rain;
I shall not hear the nightingale
Sing on, as if in pain:
And dreaming through the twilight
That doth not rise nor set,
Haply I may remember,
And haply may forget."

Aproveito e deixo a tradução de Manuel Bandeira:

"Em minha sepultura,
Ó meu amor, não plantes
Nem ciprestes nem rosas;
Nem tristemente cantes.
Sê como a erva dos túmulos
Que o orvalho umedece.
E se quiseres, lembra-te;
Se quiseres, esquece.

Eu, não verei as sombras
Quando a tarde baixar;
Não ouvirei de noite
O rouxinol cantar.
Sonhando em meu crepúsculo,
Sem sentir, sem sofrer,
Talvez possa lembrar-me,
Talvez possa esquecer."

Mas estava eu contando a minha estória do livro que me encontrou. Pois estava eu buscando os poemas da Rossetti quando me chega aos olhos um livro de lombada fina, onde se destacava a palavara "Unamuno". E também "Antologia poética". De Unamuno, D.Miguel de Unamuno, só conhecia a sua vertente filosófica, a sua amizade com, entre outros, Teixeira de Pascoaes, e a sua caracterização de Portugal como país de suicidas (Antero e Manuel Laranjeira, por exemplo). Pouco mais. Descubro então este livrinho da "Biblioteca Unamuno" da Alianza Editora (esta editora também tem Borges e Bioy Casares em formato de bolso).
Abro o livrinho e vou descobrindo as palavras. E com poemas (com o mar) de Sophia e Fiama ecoando, depois de mais um lindo fim de tarde, este é o primeiro poema que leio...

"Horas serenas del ocaso breve,
cuando la mar se abraza con el cielo
y se despierta el inmortal anhelo
que al fundirse la lumbre lumbre bebe.

Copos perdidos de encendida nieve
las estrellas se posan en el suelo
de la noche celeste y su consuelo
nos dan, piadosas, con su brillo leve.

Como una concha sutil perla perdida,
lágrima de las olas gemebunda,
entre el cielo y la mar sobrecogida

el alma cuaja luces moribundas
y recoge en el lecho de su vida
el poso de sus penas más profundas."

Folheio mais um pouco. Pronto. O livro já me encontrou. O livro já me escolheu...

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