sábado, dezembro 31, 2005

Amnesia
Diário da Procrastinação. Assim poderia passar a ser o nome deste blog.
Dia após dia, vou deixando pra amanhã... Até hoje.
Porque amanhã... chega um novo ano...
Até lá.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Jorge de Sena

Hoje, enfim, ontem, se passou mais um 11 de Setembro. Enquanto escrevo, tenho a TV ligada na MTV, onde grupos musicais vão desfilando no projeto “React Now”, para apoio às vítimas do furacão Katrina. A precariedade da vida humana cada vez mais me faz pensar sobre o sentido de tudo isto. Afinal, que estamos nós fazendo aqui?
Mas hoje não quero seguir por aqui.
Ontem, resgatei de casa de meus pais um livro de Jorge de Sena: “40 anos de servidão”. Sena, poeta já falecido há quase 30 anos, viveu em exílio grande parte de sua vida.
De acordo com o prefácio de sua viúva, Mécia de Sena, a servidão do título se refere à servidão poética.
Aqui transcrevo alguns dos poemas integrando esse livro.

“DÍSTICO

O viver que grita muito não diz nada.
A morte ao dizer tudo é bem calada.

8/7/38”

“«DRUMMOND FAZENDEIRO»

Drummond, fazendeiro
do ar, mas bem sentes
que as dores da poesia
são as evidentes.

8/2/55”

“«NEL MEZZO DEL CAMIN»

          I

Quarenta e dois… Provavelmente já
vivi mais de metade a minha vida.
Provavelmente até, em mim escondida,
não como inevitável, mas guarda-

do fim com que termina tudo, está
a morte a me roubar da consentida
afirmação de que se finge a vida.
Provavelmente, não verei o que há

Além do tempo que me é dado. Não
assistirei às pompas da vitória.
Mas, se eu morrer de raiva, como cão

a que é negada a própria liberdade,
provavelmente não terei memória
de quanto a vida só me foi saudade…

          II

…de tudo, sim. Não me contento nunca.
Não me contentarei. Mesmo que eu visse
mordendo a lama a secular canalha,
dona de tudo; e mesmo que ainda visse

liberta e justa a sórdida espelunca
de bancos e palácios, catedrais,
em que a arrogância dela se esparralha
- não me contentaria. Porque há mais

que mesmo dessangrados não vomitam:
os séculos roubados e mentido,
os corpos mortos de prostituídos,
o esgar humano com que humanos fitam.
E nem morte nem vida podem mais
do que apagarem sem deixar sinais.

30/1/62”

“NO PAÍS DOS SACANAS

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para fazer funcionar fraternamente
a humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.

10/10/73”

sexta-feira, setembro 09, 2005

Emoção

Hoje foi um dia de emoção. Melhor, um fim de dia, pois o sol já se havia posto e as estrelas iam surgindo no céu: levei minha filha para comprar a mochila para seu primeiro dia de escola. De escola a sério e não de escolinha. Mochila para carregar, ou melhor, puxar (é mochila com rodinhas) os livros, cadernos, canetas...
Com as aulas começando, um destes dias será o milagre: as letras que se juntam passarão a fazer sentido e a formar palavras.
Palavras que terão significados.
Palavras que não quererão dizer nada, enquanto não ficarem ligadas a alguma coisa.
Palavras que serão ideias.
Palavras que formarão frases. Que poderão fazer ou não sentido.
Frases que formarão textos.
E, de repente, é a entrada numa nova dimensão e mais um passo para a independência: já não precisará mais da ajuda de alguém para ler as estorinhas…

quinta-feira, setembro 08, 2005

"The Life Aquatic with Steve Zissou". Filme de Wes Anderson.
Ainda não vi. Comprei hoje o DVD e lancei-me de imediato aos extras. O primeiro extra explorado, a colaboração de Seu Jorge. David Bowie (e não só) em versão acústica e cantado em português. Depois, o reencontro com Mark Mothersbaugh. Quem? Este Mark, autor da trilha sonora, era um dos quatro DEVO! As coisas que eu aprendo...
E como já é tarde, não vi nada mais.
Só vim aqui dar mais um fôlego à minha amnésia...

quarta-feira, setembro 07, 2005

Terminaram as férias. E o verão também, ao que parece.
Regressando ao trabalho, talvez o meu blog avance melhor...
Bem, aqui vai a tarefinha que Deize, lá do Rosa Choque, me deixou...

Melhores filmes dos útimos anos. Difícil... Bem, "Lost in Translation" deixou marcas. Na animação, "Spirited Away", de Hayao Miyazaki; "The Emperor's New Groove" e "The Incredibles".

O filme da vida? Apesar da minha (quase) provecta idade, creio que ainda não vivi o suficiente para eleger um filme em tal categoria. Mas o "Blade Runner" está em muito boa posição. O "Top Gun", não pelo filme em si, mas pelo ambiente em que foi visto algumas dezenas de vezes também pode entrar nesta categoria. "C'est arrivé prés de chez-vous" (nem sei bem como se escreve...) também foi visto numa altura muito especial. Também pode entrar na contagem.

Atores com pujança? Aqui, coloco Harrison Ford e Humphrey Bogart. Ah, e Bill Murray...

Atrizes de mão cheia. Hum... Por vezes, acho meio complicado avaliar a qualidade interpretativa de uma atriz, me vou dispersando por outras qualidades... Talvez Susan Sarandon e, entrando na unanimidade geral, Nicole Kidman.

Musicais: "The Sound of Music", "My Fair Lady", "Kismet", "All That Jazz".

Realizadores com r grande: Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrik. E está incompleta...

quarta-feira, agosto 03, 2005

Promisses, promisses, promisses...
Para evitar que meu cantinho aqui fique moribundando, tenho que escrever. E nem sempre a vontade vem, o tema chega ou a frescura de cabeça se mantém.
Sem nada pra dizer, dizer que estou vivo já não é muito mau.
A silly season está no seu melhor, e creio que muitas das notícias que se vão publicando diariamente nos jornais estiveram alguns meses mofando em mesas de redacção (ou no cantinho do disco rígido de algum computador...).
Mas estamos em Agosto e, de manhã, o metrô continua lotado. Ninguém vai de férias? Bem, eu ainda não fui... mas, e os outros? Opção? Ou é mesmo a crise?
Minha lista de leituras é longa. E creio que vai continuar longa, entrando pelo Inverno... Neste momento, leio "El Maestro de Esgrima", de Arturo Pérez-Reverte. Algures no tempo se seguirão "The Historian", de Elizabeth Kostova, "Hypnerotomachia Poliphili - The Strive of Love in a Dream", com tradução de Joscelin Godwin, antes de ler "The Rule of Four", de Ian Caldwell e Dustin Thomason e ainda a "Collected Prose" de Paul Auster. Creio que isto me dá para chegar ao Inverno. Que digo? Primavera!
Ah, quanto ao Harry Potter e o seu Half Blood Prince, bem, crio que ainda não é para já...
Para quem não tinha nada pra dizer, já disse o suficiente...

sábado, julho 30, 2005

Estou morrendo de sono, mas quero sentir que estou frente a esta tela sem ser por obrigação.
As últimas semanas não têm sido fáceis: trabalho que não consigo terminar e que trago para casa, poucas horas de sono, a folha de cálculo que vou corrigindo e copiando e repetindo, com medo de perder dados importantes... Células mal formatadas, colunas que desaparecem, linhas apagadas, e o trabalho que fica incompleto, noite após noite, dia após dia...
Hoje, parece que abrandou (pois, isto nunca mais acaba...) e me sinto livre. Pelo menos, até segunda...
Tantas coisas que deixei de fazer e tantas que fiz só para não fazer aquilo que devia. Adiando sempre as correções (nem eu sei bem porquê), com pouca paciência para consultar os documentos, com medo de encontrar mais erros...
E tanto tempo que se passou sem ter postado nada... e sem celebrar direito os dois anos da Amnesia...
Ainda tentei gozar três semanas de férias. Nada. Ficaram reduzidas a dois fins de semana alargados. Pouco alargados.
Vou dormir agora.
E tentar ser mais regular com meu pobre blog.

quarta-feira, junho 15, 2005

Hoje, a edição do Diário de Notícias não tinha contracapa: tinha duas capas. De um lado, ocupando toda a página, o rosto de Álvaro Cunhal. Do outro lado, virando o jornal, nova capa, desta vez com o rosto de Eugénio de Andrade.
Praticamente, todo o jornal era a evocação destas duas figuras.
E foi num pequeno texto de Eduardo Pitta que me recordei: Al Berto morreu também, neste mesmo dia, há já oito anos. Parece que o 13 de Junho, para além do Santo casamenteiro, também deveria celebrar a poesia. Pelo menos, a portuguesa. Nasceu Fernando Pessoa. Morreram Al Berto e Eugénio de Andrade. Mais alguém que eu tenha esquecido?
Fica aqui um poema de Al Berto:

"INCÊNDIO

se conseguires entrar em casa e
aalguém estiver em fogo na tua cama
e a sombra da cidade surgir na cera do soalho
e do tecto cair uma chuva brilhante
contínua e miudinha - não te assustes

são os teus antepassados que por um momento
se levantaram da inércia dos séculos e vêm
visitar-te

diz-lhes que vives junto ao mar onde
zarpam navios carregados com medos
do fim do mundo - diz-lhes que se consumiu
a morada de uma vida inteira e pede-lhes
para murmurarem uma última canção para os olhos
e adormece sem lágrimas - com eles no chão"

terça-feira, junho 14, 2005

Estes últimos dias estive um pouco arredado das notícias e foi hoje, por acaso, enquanto bebia um café num botequim, que soube que havíamos perdido um poeta, o poeta: Eugénio de Andrade.
Deixo aqui as suas palavras...

"EM LISBOA COM CESÁRIO VERDE

Nesta cidade, onde agora me sinto
mais estrangeiro do que um gato persa;
nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver as gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu já sei bem.
Só ele ajusta a luz feliz dos seus
versos aos olhos ardidos que são
os meus agora; só ele traz a sombra
de um verão muito antigo, com corvetas
lentas ainda no rio, e a música,
sumo do sol a escorrer da boca,
ó minha infância, meu jardim fechado,
ó meu poeta, talvez fosse contigo
que aprendi a pesar sílaba a sílaba
cada palavra, essas que tu levaste
quase sempre, como poucos mais,
à suprema perfeição da língua."

segunda-feira, junho 13, 2005

Ainda o tempo. Mas hoje, sem Ferré.
Ontem, no suplemento Mil Folhas do jornal "Público", na rubrica "Vale e pena traduzir", Desidério Murcho faz referência à obra "The Philosophy of Time", organizada por Robin Le Poidevin e Murray MacBeath e publicada pela Oxford University Press.
Eu sei que "não há mais metafísica no mundo senão chocolates" e que "a metafísica é uma consequência de estar mal disposto", conforme refere o senhor Engenheiro Álvaro de Campos, mas achei curiosas estas coisas que os filósofos contemporâneos pensam sobre o tempo. Para os outros, nunca sobra ou corre lento. Para eles, existem teorias flexionadas e teorias não flexionadas.
Há quase 100 anos (em 1908), o senhor McTaggart, resumidamente, afirmou que: 1) o tempo envolve mudança; 2) só as formas flexionadas de expressão podem exprimir a mudança; 3) mas as formas flexionadas de expressão envolvem contradições. Logo, o que concluir? Que o tempo é irreal... O grupo das teorias flexionadas aceita a premissa 2 mas recusa a 3. Os das não flexionadas aceitam a 3 mas recusam a 2.
Se segue depois outra questão: o que é existir no tempo? Ao longo de nossas vidas, existimos só parcialmente em cada um dos dias que vivemos? Ou será que existimos completamente em cada um desses dias? Ou seja, quando conhecemos alguém, será que estamos conhecendo essa pessoa na totalidade? Ou estamos apenas conhecendo essa pessoa no fragmento do total que é esse momento? Davis Lewis (1941-2001) defendia que a cada dia, apenas estamos perante um "segmento temporal" desse sujeito. A essa perspectiva se dá o nome de "perdurabilismo". Por oposição, o "durabilismo" defende que os particulares existem completamente em cada momento do tempo.
Parece que existe ainda uma terceira questão central: poderá o tempo existir sem mudança? Os absolutistas dizem que sim. Os relacionistas defendem que o tempo não é coisa alguma além da mudança: não havendo mudança, não há tempo.
Para reflexão em dia de Santo Antônio...
Já o mestre Caeiro dizia que "há metafísica bastante em não pensar em nada".
E por falar nisso, em 1888 nascia aqui em Lisboa, no Largo de São Carlos, Fernando Antonio Nogueira Pessoa. Só para recordar...

domingo, junho 12, 2005

Quando eu era mais novo (muito mais novo!), achava que não tinha idade para ouvir Léo Ferré. Ou Serge Reggiani ou Georges Moustaki, por exemplo. Um dos pecados principais era o fato de cantarem em francês. Tudo o que não fosse cantado em inglês (ou em português) não era para o meu entendimento de então. E além disso, as músicas não se podiam trautear, não tinham refrão simples de repetir. Achava eu que era música, que eram canções, para trintões.
Neste momento, já passei a fase do trintão. Comecei a entender francês. E começo a descobrir estes "cantautores". Mas antes passei por Rimbaud, Verlaine, Baudelaire. Mesmo Victor Hugo e até Proust (não, não foi a "Procura"... esta será descoberta através da tradução do Pedro Tamen...).
Há uma semana que sou perseguido (novamente) por uma canção de Ferré (lui même...): "Avec le temps". Se fosse em português, seria um fado, certamente.
Esta música me perturba. Me dá um nó na garganta e deixa meus olhos úmidos.
Porquê? Porque é o tempo. É a memória. É o esquecimento. É a morte...
"Avec le temps, tout s'en vas"
É a perda. São as dores de crescimento que não param, mesmo quando a puberdade já é algo tão longínquo quanto a construção das pirâmides...
Avec le temps...
O poema, de Ferré, aqui fica...

Avec le temps
"Avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie le visage et l'on oublie la voix
le cœur, quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
chercher plus loin, faut laisser faire et c'est très bien

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la pluie
l'autre qu'on devinait au détour d'un regard
entre les mots, entre les lignes et sous le fard
d'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
avec le temps tout s'évanouit

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'as un' de ces gueules
à la gal'rie j'farfouille dans les rayons d'la mort
le samedi soir quand la tendresse s'en va tout' seule

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
l'autre à qui l'on croyait pour un rhume, pour un rien
l'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
devant quoi l'on s'traînait comme traînent les chiens
avec le temps, va, tout va bien

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid

avec le temps...
avec le temps, va, tout s'en va
et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
et l'on se sent floué par les années perdues- alors vraiment
avec le temps on n'aime plus"

sábado, junho 11, 2005

Hoje foi mais um dia de Feira do Livro.
Mas antes, uma passagem pela exposição de Xana, na Culturgest.
Isto, enquanto ainda temos os jacarandás em flor. Coisa linda... Por sorte, existem muitos ali no Campo Pequeno. Infelizmente, o espetáculo não durará muito mais tempo, pois as flores já começam a cair. E muito...
A minha filha adorou a exposição. Muitas formas geométricas, muita cor. Quer repetir...
Na Feira do Livro, aproveitei a presença de António Torrado e tive direito a uma obra autografada: o volume 2 dos "Histórias Tradicionais Portuguesas Contadas de Novo". Que têm estes livros (são já três volumes) de especial? São escritos para ler em voz alta. Para quem lê é ótimo, porque cria a ilusão a quem escuta que estamos mesmo contando uma estória. A outra vantagem, é a de utilizar vocabulário que, para uma criança, é novo. Assim, se enriquece quem lê e se enriquece quem escuta.
Falando um pouco com o autor, ele referiu ainda que tem um site com 366 estórias, que também podem ser lidas e escutadas (para além de outras coisas, mas confesso que ainda não fui lá espreitar...). Fica aqui o convite, para quem quiser.
Mas o pretexto para a minha ida ao Parque Eduardo VII foi mais prosaico: comprar algodão doce. Já com seis anos, minha filha nunca tinha provado. Pois bem: provou, e não gostou. Ainda bem! Pelo que paguei (2 euros!!!), considero-me roubado! É preferível um sorvete ou um picolé...
Ah! Está provado que enfrentamos uma seca mesmo. Durante todo o período da feira (que vai encerrar na 2ª feira, dia de Santo Antônio), não choveu, como é de tradição, um único dia!
A situação está grave mesmo.

quinta-feira, junho 09, 2005

Contaminação
Deixei o cinema contaminar a literatura.
Depois da referência ao "The Maltese Falcon" no "Oracle Night" do Paul Auster, não descansei enquanto não li. Foi complicado encontrar a obra de Dashiell Hammett. Nem em português consegui encontrar. Passaram-se os meses e, finalmente, surgiram vários livros dele (Hammett, claro). Este "Maltese Falcon" é da Orion, editora londrina, incluído na coleção "crime masterworks".
Lá estava Sam Spade. "Samuel Spade's jaw was long and bony, his chin a jutting v under the more flexible v of his mouth. His nostrilscurved back to make another, smaller, v. His yellow-grey eyes were horizontal. The v motif was picked up again by thickish brows rising outward from twin creases above a hooked nose, and his pale brown hair grew down - from high flat temples - in a point on his forehead. He looked rather pleasantly like a blond satan." Esta é a descrição feita por Hammett. Quem é que eu vejo? Bogart. Humphrey Bogart. Quem oiço nos diálogos? Bogart.
Bogart é Sam Spade e não há volta a dar...
Escrito em 1929, John Huston transformou as palavras em imagens em 1941, nos estúdios da Warner.
E ao longo do livro, sempre as imagens. Porque é mesmo isso que parece: o guião de um filme. Um livro escrito para ser visto.
Irremediavelmente, o cinema, aqui, contaminou a literatura...

segunda-feira, maio 30, 2005

Ainda mais algumas palavras sobre o "Piano Man".
No jornal Público, de hoje (bem, de ontem, 29 de Maio), li um longo artigo sobre ele e sobre a amnésia em geral.
Assim, o homem deve ter entre os vinte e muitos e os trinta e poucos, foi encontrado a 7 de Abril numa cidade inglesa à beira mar do condado de Kent, encharcado e com as etiquetas da roupa arrancadas.
Sem falar, depois de lhe cederem um papel e uma caneta, desenhou um piano de cauda.
Colocando-o frente a um, tocou como um virtuoso.
Ainda hoje não sabem quem é.
Sobre a amnésia, existem vários tipos: a localizada, em que uma pessoa é incapaz de recordar acontecimentos por um período de tempo circunscrito; a selectiva, em que a pessoa recorda apenas alguns acontecimentos num período de tempo; a generalizada, onde a pessoa manifesta uma incapacidade para recordar tooda a vida; a contínua, onde se perdeu a capacidade de recordar tudo a partir de determinada altura; a sistematizada, onde a perda de memória se refere a certas categorias de informação.
Para concluir, a amnésia é um sintoma, que poderá ter inúmeras causas.
Assim como este blog...
Descobri quem deveria se tornar a imagem simbólica deste blog: o "Piano Man".
Há dias, li a pequena notícia num jornal que dizia que em Inglaterra havia sido encontrado um homem, alto e tímido, e que aparentemente apenas se comunica com o mundo através do piano. Não larga as pautas com que foi encontrado e, colocado frente a um piano, pode tocar horas seguidas. E tocar aqui não significa martelar as teclas...
Está internado num hospital psiquiátrico e ninguém sabe quem ele é. Nem mesmo ele.
Amnésia pura.

domingo, maio 29, 2005

Chorei.
Mais uma vez, no confronto com um filme, chorei.
Se disser qual o filme, tavez quem me lê agora esboce um sorriso: foi com o "Último Samurai" (The Last Samurai), aquele filme com o Tom Cruise.
Acabei de ver o filme agora. Em DVD, claro. Ainda não avancei para as opções especiais, os extras, especialmente o documentário do Canal História, que supostamente fará o confronto entre a chamada "verdade histórica" e a "verdade de Hollyood".
Mas chorei quando e porquê? À primeira parte da questão é fácil responder: quando o último Samurai, Katsumoto, se suicida no campo de batalha e os restantes soldados, "inimigos", se prostram em respeito. Quanto ao porquê, não sei responder. Chorei e pronto.

segunda-feira, abril 18, 2005

Aparentemente, eu, estou bem.
Aqui o meu portátil, infelizmente, não.
Deixei o meu pequeno Libretto e estou de novo com o meu Satellite. Depois de ter o disco formatado e com novo software instalado.
Todo o software? Não. Há um programa que teima em não querer concluir a sua instalação e que é aquele que me permite enfrentar a net em segurança: o Norton… Para remediar a situação (pelo menos, para me sentir mais descansado enquanto estou conetado) instalei um antivírus. Mas não é o mesmo…
Todavia, agora, tenho um novo gadget instalado: tenho uma placa/suporte de refrigeração! Para que serve? Quando, nos Açores, usava o meu Libretto, fazia uma alturinha atrás para duas coisas: maior conforto na hora da escrita e para permitir passagem de ar sob o computador. Com este, escrevia sempre sobre uma mesa com tampo de mármore. Aqui, escrevendo sempre sobre um tampo de madeira, a temperatura ia subindo e esta coisa ia ficando mais lenta (não notei que ficasse mais instável). Assim, há bastante tempo que tinha ideia de comprar um suporte de impedisse a concentração do calor. Afinal, descobri este suporte de alumínio, com duas ventoinhas (que são pouco ruidosas) e que é apenas alimentado através da porta usb. Aliás, fiquei ganhando mais duas! Além disso, há uma luzinha azul que é muito relaxante (apesar de eu não a ver…)
Assim, estou escrevendo agora de forma mais confortável, pois ganhei alguma inclinação no teclado e, espero, esta máquina ficará sempre “rápida” (coisa que ela não é assim muito mas, enfim, em termos relativos, pronto, menos lenta após duas horas de trabalho…)
Pelo meu relógio, já passa para lá das duas e trinta. Assim, termino por aqui…

segunda-feira, abril 04, 2005

Por problemas vários, ainda não resolvidos, tive que regressar ao meu pequenino Libretto 70CT: um simples pentium, ainda com o Windows 95 e com o Word 97. Mas vai dando para escrever e para recordar como já foi importante na minha ligação com o mundo. Por aqui tive a minha primeira ligação à internet, aqui fiz os meus primeiros chats, aqui preparei muitos trabalhos…
As teclas estão num espaço limitado o que, para quem escreve apenas com dois dedos, nem é mau de todo.
Este texto é apenas para me sentir vivo, e para demonstrar que ainda ando por cá…
O espaço caótico do “escritório” teve mais uma pequena limpeza, numa estreita área mas, como diz o outro, um percurso de mil quilómetros inicia-se com o primeiro passo.
Olhando para o relógio do computador, verifico que estou fazendo uma viagem no tempo. Para ele, estamos em Novembro, sexta-feira, 29, e o ano é o de 2002. Nessa data já eu estava só… Apesar de agora já ser madrugada, para este computador o dia nasceu ainda não há muito tempo, pois marca as nove da manhã…
Com a morte de João Paulo II, o canal público de TV decide prolongar a progranação da Páscoa: neste momento, transmite “A Bíblia”. Há pouco, consegui reconhecer John Huston na figura de Noé.
Sendo este um texto sem tino, refiro a minha compra de hoje. Finalmente, consegui comprar “The Maltese Falcon”, de Dashiell Hammett. E porquê “finalmente”? Porque a vontade me foi desperta pela referência directa ao seu capítulo sete no último livro de Paul Auster. Recordava-me do filme, com Humphrey Bogart e Peter Lorre nunca havia sentido a vontade de ler a história. Mas Auster despertou em mim essa vontade.
Nunca fui um grande fã de policiais, confesso. Sempre me senti muito limitado na fase do “quem matou” ou na fase do “como matou”. O meu QI tem alguns limites… Entretanto, várias referências fui lendo sobre alguns autores (nomeadamente Hammett) e a sua forma de escrita e o livro policial passou também a ser o texto e a sua construção. Veremos como será o confronto com este Maltese Falcon.
Para já, terá de ficar em lista de espera pois ainda não conclui o “Cabo Trafalgar”. Neste ponto da novela, franceses (os “gabanchos”) e espanhóis estão em plena refrega, pressentindo a derrota…
Acho que por hoje, me vou ficar por aqui. Já está na altura de me ir deitar…

segunda-feira, março 21, 2005

Robots. The Movie!
Hoje foi dia de cinema. Robots. Diversão garantida. Eu acho. Nalguns momentos, parecia que só eu estava rindo...
Fui eu e minha filha, avós maternos e a tia. No fim do filme, minha filha queria comprar mais um bilhete para ver de novo!
O cinema de animação parece ter evoluido e garante vários níveis de leitura, adaptados às várias idades, cada uma com seu "stock cultural"...
Ao mesmo tempo, os animadores se permitem várias "piscadelas de olho" cinematográficas. Assim, vão "copiando" cenas de outros filmes e as tomam como suas. Existe uma cena que copia a coreografia de "Singin' in the rain" do Gene Kelly. Noutras alturas, sinto a presença de "Metropolis", do Fritz Lang, nas profundezas da fundição, onde os robôs descontinuados são derretidos. Nos níveis mais baixos da cidade, sinto a atmosfera do "Blade Runnner". Há ainda uma referência explícita a "Star Wars", quando um dos robôs, que não tem voz (e que, afinal, acaba por ter várias, incluindo a James Brown), a dada altura experimenta um dos seus módulos de voz e fala como Darth Vader.
Finalmente, uma outra cena (e isto já deve ser uma associação de idéias muito elaborada), me fez recordar "A Lenda do Rei Pescador" (não me lembro do título original, mas era um filme em que o Robin Williams representava um sem-abrigo nova-iorquino, traumatizado após o assassinato de sua mulher num bar, em demanda do Graal). É a cena em que Rodnick chega à estação central. Essa estação central recorda-me o grande átrio da Central Station, quando todos começam a dançar no momento em que Robin Williams vê a sua "paixão". Uma música de Tom Waits reforça essa sensação, pois ele também tem uma aparição nesse filme. Mas como disse, isto já é uma associação de idéias bastante rebuscada.
Mas de que trata o filme? Não digo. Vão ver.
Também me diverti ao ver o "teaser" do Ice Age 2. Aqui, o esquilo, buscando sua bolota, ao desincrustá-la do gelo, permita uma fuga de água. Depois de a tapar com uma das mãos, nova fuga. A outra mão tapa. Outra fuga. Um pé. Ainda outra fuga. O outro pé. E a bolota não cai. Outra fuga ainda. Sobra a boca. Então... vejam...

sábado, março 12, 2005

É oficial.
Eu estava lá. Eu vi.
A Primavera chegou a Lisboa, à beira Tejo, no dia 11 de Março.
Três andorinhas foram avistadas...

quinta-feira, março 10, 2005

Um destes dias vou ter que redifinir todos os links que tenho aqui ao lado.
Muitos deles já estão "mortos"... e é pena...
Quantos cânones existirão?
Se os Mandamentos são apenas 10, para quê, pelo menos, mais de 900 cânones???

segunda-feira, março 07, 2005

E coloquei “cânone 915” num motor de busca e aguardei. Surgiram dezenas de referências. Eu tenho andado a leste, mesmo. No seu anúncio, (no qual parece ter gasto 130 mil euros), afirma o padre franciscano Serras Pereira que, de acordo com o cânone 915 do código de direito canónico, "está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística" a todos os católicos que tenham manifestado publicamente o apoio a práticas que promovem "a morte de seres humanos inocentes".
“O cânone 915 diz que "não são admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto", explicou à Agência Lusa, o professor Saturino Costa Gomes, director do Instituto Superior de Direito Canónico. Ou seja, "os sacerdotes podem recusar a comunhão" a todos os católicos relativamente aos quais têm conhecimento de que cometeram ou cometem um pecado grave, segundo o que está estabelecido nos preceitos da Igreja Católica”.
Segundo o padre Nuno Serras Pereira, estas são práticas tão distintas como tomar "diversas pílulas, o DIU, a pílula do dia seguinte, (o recurso a) técnicas de fecundação extra-corpórea, selecção embrionária, da experimentação em embriões, ou a investigação em células estaminais". O padre diz também que não dá a comunhão a quem se tenha manifestado a favor do aborto ou da eutanásia.
Contactado pela SIC, o Patriarcado de Lisboa diz que não faz qualquer comentário e que o conteúdo do anúncio é da inteira responsabilidade do padre Nuno Serras Pereira.
Depois de explorar o site da SIC, encontrei este, ijesus.com.br/forum. Aqui, para além de se dar a conhecer o anúncio do padre, se avança um pouco mais na explicação do fato:
Usar contraceptivos ou promover o seu uso; recorrer à reprodução assistida ou defender esse recurso; praticar o aborto, fazer campanha pelo alargamento dos prazos previstos na lei ou estar de acordo com a actual legislação; advogar ou aceitar a clonagem ou a eutanásia... Tudo isto é, para o padre Nuno Serras Pereira, "contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes". De acordo com tal convicção, decidiu publicar em dois diários portugueses um anúncio de quarto de página, no qual participa "aos católicos" que se revejam no perfil descrito encontrar-se "impedido de [lhes] dar a sagrada comunhão, a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes".
No grupo estão incluídos todos os católicos que usam «diversas pílulas, DIU [dispositivo intrauterino] e pílula do dia seguinte» e os que recorrem a «técnicas de fecundação extra-corpórea, selecção embrionária, criopreservação, experimentação em embriões» e outros métodos de reprodução medicamente assistida. O mesmo se aplica aos que votam ou participam em campanhas a favor da legalização do aborto e aceitam ou concordam com a actual lei em vigor e com a eutanásia.
Para consubstanciar esta posição, Serras Pereira invoca o Código de Direito Canónico e uma das encíclicas de João Paulo II - Evangelium Vitae, de 1995 - em que este classifica como pecados graves, e passíveis de impedir a absolvição (sem a qual não é possível a comunhão), as atitudes descritas.
O cânone 915, referido pelo padre, diz que «não são admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto», explicou o professor Saturino Costa Gomes, director do Instituto Superior de Direito Canónico. Ou seja, «os sacerdotes podem recusar a comunhão» a todos os católicos relativamente aos quais têm conhecimento de que cometeram ou cometem um pecado grave à luz do que está estabelecido nos preceitos da Igreja Católica.
O franciscano, que não tem paróquia fixa, explicou que esta foi a única forma encontrada para dar a conhecer o que, segundo ele, é uma imposição da igreja, que se aplica apenas aos que tornaram públicas as suas posições. “Não vou andar a meter-me na vida pessoal de cada um. No entanto, aqueles que divulgam publicamente as suas decisões e opiniões já sabem. Evita-se, desta forma, qualquer embaraço.” A publicação do anúncio criou alguma perplexidade e até indignação nos meios católicos e não católicos. Uma reacção que este clérigo acolhe com ironia "A única coisa que posso dizer é que agradecia que me justificassem a indignação. Seria para mim uma ajuda, porque aquilo que digo funda-se nas orientações de uma encíclica do Papa, e admira-me muito que certas partes dessa encíclica sejam, aparentemente, tão mal conhecidas. Nunca ouvi ninguém divulgá-las ou comentá-las, à excepção de mim." Nuno Serras Pereira justifica a sua decisão com o que diz ser o direito à vida, que considera “o primeiro e fundamento de todos os outros”. Condena publicamente o aborto, posição assumida pela Igreja, e vai ainda mais longe. “Um dos dez mandamentos diz: ‘Não matarás’. Qualquer católico sabe que não tem o direito de matar e, se o quiser fazer, tem que aceitar as consequências dos seus actos. Não se pode ter com Deus uma relação que ele não aceita.”
Quanto ao âmbito da sua profissão de fé, que alguns alegam poder afastar fiéis das igrejas cada vez mais desertas, o padre explica que se dirige sobretudo a "vidas notórias e públicas", já que não "se pode saber dos comportamentos dos anónimos". Refere-se especificamente a "pessoas que aparecem nos jornais, na TV e na rádio a defender coisas que estão contra o ideal católico que dizem defender". É o caso, exemplifica, de "todos os que se afirmam católicos e dão por boa a Lei 6/84 que legaliza o aborto". Esses - e nesses se inclui todo o espectro partidário representado na Assembleia da República, incluindo o Partido Popular e o seu líder Paulo Portas - não receberiam dele a comunhão. Quanto ao efeito nas congregações, não teme "Tudo o que clarifica aproxima."
O padre Anselmo Borges, conhecido pelas suas posições liberais, não tem a mesma opinião. "Esta gente toda que ele quer manter fora da comunhão é, no fundo, toda a gente! " E indigna-se "Acho lamentável este... não sei como chamar a isto... anúncio. Porque não é correcto, nem do ponto de vista científico, nem moral, nem jurídico, nem religioso, meter tudo isto isto no mesmo saco. Não é mesma coisa tomar a pílula para uma maternidade consciente e a eutanásia, por amor de Deus! Se a contracepção é um pecado grave, então nesta altura 80% das mulheres, mesmo as católicas, estão em pecado grave. Há católicos que fazem fecundação in vitro - daqui a pouco é tudo proibido!"
A coincidência das teses de Serras Pereira com a visão do Papa não estremece Anselmo Borges. "O Papa critica, mas o Papa não decide tudo - tem o direito e dever de dar orientações... Mas a Igreja Católica tem de aprender que há uma realidade chamada autonomia moral."
POPULAÇÃO CONTRA SACERDOTE
O anúncio do padre não foi muito bem recebido nas paróquias onde tem celebrado missas. “É um bom padre, mas não se devia meter nessas coisas”, afirmou Maria Lina Carvalho, de 67 anos, que costuma ir todos os domingos à Igraja de N.ª Sr.ª do Carmo, no Alto do Lumiar. “Abortos já fiz muitos e só tenho de prestar contas a Deus”, revelou Maria do Céu Martins, de 82 anos, frequentadora da Igreja da Sagrada Família da Pontinha, onde algumas mulheres se mostraram revoltadas com a posição de Nuno Pereira. “Ele é contra o aborto, então que dê a missa aos homossexuais que esses não o fazem”, dizia Sónia Vicente, de 29 anos, valendo-se ainda de uma passagem da Bíblia: “Quando quiseram apedrejar a prostituta, Jesus não lhe voltou as costas e ela era prostituta. Este agora não nos quer dar a hóstia.”
OUTRAS OPINIÕES
TERESA GUILHERME, APRESENTADORA DE TV: “Espero que os padres ponham cada vez mais anúncios nos jornais, que os meios de comunicação agradecem o dinheiro. Quanto à Igreja Católica, numa época em que as pessoas precisam tanto de apoio espiritual, penso que se está a afastar cada vez mais da nossa realidade, que parece querer conhecer cada vez menos.”
ODETE SANTOS, DEPUTADA COMUNISTA: “Trata-se de uma coacção que se exerce sobre os católicos, é uma chantagem e revela falta de humanidade. Ao mesmo tempo, é um atentado contra a vida humana, na medida em que ao defender que não se use o preservativo, com todas as doenças que existem, não se está a ter em conta o ser humano.”
PADRE MAIA: “A consciência de cada pessoa é um santuário e as questões de consciência não se tratam em colunas de publicidade, mas sim no foro da própria consciência. Depois, mesmo que o anúncio pareça estar de acordo com a doutrina da Igreja, entendo que a interpretação feita da mesma é um abuso.”

Fim de citação.

domingo, março 06, 2005

Descobri. Esta é uma notícia de 2 de Março (por onde é que eu tenho andado, que não vejo estas coisas?)
“Um padre católico português anunciou hoje a sua recusa em dar a comunhão aos católicos que usam métodos contraceptivos, que recorrem à reprodução assistida ou que aceitam a actual lei em vigor sobre o aborto. O padre Nuno Serras Pereira invoca o cânone 915 do Código de Direito Canónico para, "na impossibilidade de contactar pessoalmente as pessoas envolvidas", lhes dar conhecimento público de que "está impedido de dar a sagrada comunhão eucarística a todos aqueles católicos que manifestamente têm perseverado em advogar, contribuir para, ou promover a morte de seres humanos inocentes". Nesta categoria incluem-se, de acordo com o padre Nuno Serras Pereira, todos os que usam "diversas pílulas, DIU e pílula do dia seguinte" e os que recorrem a "técnicas de fecundação extra-corpórea, selecção embrionária, criopreservação, experimentação em embriões" e outros métodos de reprodução medicamente assistida. Votar ou participar em campanhas a favor da legalização do aborto, aceitar ou concordar com a actual lei em vigor e defender a eutanásia também são motivos que impedem o padre de dar a comunhão.”
O trecho acima foi pilhado do "Barnabé".
E finalmente entendo todas as referências ao Padre Serras Pereira e ao cânone 915...
Sexo, sempre sem proteção e apenas para reprodução...
Quem quiser sexo por prazer, troque de religião...
Ando perdido...
Parece que há um padre, de seu nome Serras Pereira, que disse algo. O quê? Não sei. Daí estar perdido. E o que ele disse não seria importante, não fosse o caso de todos se referirem àquilo que ele disse! Mas sem nunca dizerem o que ele realmente disse....
Terei de investigar para poder entender todas estas referências cruzadas.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

E chega um dia...
Chega um dia em que passamos a ter os nossos mortos.
Chega um dia em que sabemos que "nunca", afinal, é uma palavra possível.
Chega um dia em apenas conseguimos ver com os olhos fechados.
Chega um dia em que encontramos frio quando buscamos calor.
Chega um dia em que só o eco de uma casa vazia nos responde.
Chega um dia em que a memória vem sempre embrulhada em lágrimas.
Chega um dia em que os desejos são todos saudade.
Chega um dia em que não desejamos acordar...

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

O país mudou de cor: agora é rosa.
A vitória do Partido Socialista é histórica: 120 deputados! Maioria absoluta.
Outra vitória histórica: a do Bloco de Esquerda. Passou de 3 para 8 deputados! Quase triplicou a sua representação! Significa isto que a sua responsabilidade também é maior!
Como será o futuro? Não sei. Mas um fato ainda há a registar: a abstenção. Não recordo quais os valores em anteriores eleições, mas hoje situou-se apenas em 35%. Eu vi que havia mudança no comportamento dos eleitores quando fui votar. Habitualmente, vou sempre antes de almoçar, por volta das três da tarde. Nas últimas eleições, na minha seção de voto, encontrava apenas uma ou duas pessoas esperando. Hoje, tinha uma fila que me obrigou a ficar cerca de dez minutos aguardando até poder pôr a minha cruzinha no boletim de voto. Confesso ainda que fiquei surpreendido com a quantidade de opções. Como desde início já sabia qual a minha opção, não liguei à campanha eleitoral. Assim, ainda hoje não sei o que propunham os outros partidos e movimentos que ali estavam representados.
E Pedro Santana Lopes, atual Primeiro-Ministro? Disse que a culpa era dele. Mas não bateu com a porta (ao contrário de Paulo Portas, seu companheiro de coligação). Disse que haveria Congresso e que depois se veria...
O futuro, mais uma vez, começa hoje...

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Hoje, minha filha me deixou sem palavras.
Já estava deitada, com o quarto às escuras. A caixinha de música (ela gosta sempre de ouvir a caixinha de música antes de adormecer) já se havia calado.
Em voz muito baixinha, sussurando, pergunta:
- Papá? Eu não me lembro da voz da mamã. Como era a voz da mamã? Eu lembro-me dela das fotografias, mas não me lembro da voz. Como era a voz da mamã?
- Pronto, querida, agora é para dormir...
- Papá, com era a voz da mamã? Eu não me lembro...
- ...

domingo, janeiro 30, 2005

Finalmente, cheguei à leitura da "Lenda de Martim Regos".
Depois de ter passsado pelo "Oracle Night" e pela "Sombra do Vento", recuo cinco séculos.
Hei-de fazer um post maior sobre os dois primeiros livros. Prometo. Só não sei quando. Mas, sequencialmente, o ritmo imposto pelos diferentes livros tem vindo a decrescer. Auster é rápido, Záfon é mais lento, e com Pedro Canais temos um tempo de quando ainda havia todo o tempo do mundo.
E neste tempo mais lento, se enquadra bem um cachimbo. Porque nele, tudo é lento. Temos que encher uma fornalha, pouco a pouco, com o tabaco que vamos retirando do pequeno saco. De seguida, há que o acender. E, seguidamente, há que o manter aceso. Temos uma profusão de gestos para garantir um bom fumo. O cigarro é o oposto. Em três gestos (tirar o cigarro do maço, colocá-lo entre os lábios e acendê-lo), já se está consumindo...
Durante uma cachimbada, podemos escrever durante mais tempo, sem termos a preocupação de proteger o teclado da cinza que pode cair. E podemos manter os gestos (segurar o cachimbo entre os dentes, segurá-lo entre as mãos) mesmo depois de reduzido o tabaco a cinza. O cachimbo permite o pensamento lento. O cigarro obriga ao pensamento rápido. É a contemplação por oposição à acção...

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Tanto tempo sem notícias!
Não era intenção minha estar tanto tempo com o blog inactivo, mas ou falta disponibilidade, ou falta vontade, ou chega o vazio das ideias... O pior é que este é um vazio que desaparece assim que desligo o computador e me levanto. Aí, começam a surgir as ideias e as palavras. Mas nessa altura estou já tão cansado (normalmente é sempre por volta das duas ou três da madrugada) que não volto a ligar a máquina.
Hoje, escrevo ainda de dia. Num intervalo de tarefas, decidi quebrar o silêncio. Da rua, por esta janela enorme de meu gabinete (até quando ficarei aqui?), me chega a luz de um quase sol poente e o seu reflexo no Tejo. E neste frio Janeiro, sinto um calorzinho bom.
Claro, coloquei uma banda sonora condizente: “Bossa Nova Story”, com produção de Roberto Menescal e muitas e valiosas colaborações, em (re)criações de “clássicos”.
Esta coisa de chamar clássicos é tão formal... normalmente, um clássico é algo que já cheira a mofo.
Mas estas interpretações são bossanovidades. Menescal não permite muita fuga da interpretação canónica (xi, como eu estou escrevendo agora... deve ser de estar tão enferrujado) a que me habituei, mas permite a interpretação pessoal de cada um.
Por aqui podemos ouvir Claudia Telles com o “Samba de uma nota só” e “Dindi” (temas já interpretados por sua mãe, Sylvia Telles); Marcos Valle com o seu “Samba de Verão” e “Gente” e uma interpretação de “O que eu gosto de você”, de Sílvio César; o próprio Menescal com “Saudade fez um samba”, de Carlos Lyra e Ronaldo Boscoli, Lyra que surge também interpretando “Coisa mais linda”, que ele compôs em parceria com Vinicius, “Lobo Bobo” que compôs em parceria com Ronaldo Boscoli e “Influência do Jazz”, dele só. E outros!
O sol vai dormir, e eu vou sair. O texto vai acabar aqui. Mas antes...
“Se a luz do sol vem me trazer calor/ e a luz da lua vem trazer amor/ tudo de graça a natureza dá/ p’ra que é que eu quero trabalhar?”, canta Chico Feitosa em “Rapaz de Bem”.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Eu preferia iniciar 2005 com um blog mais estruturado, mais pensado, mas agora é mesmo para dizer duas coisas:
- estou vivo;
- Obrigado.
Obrigado pelos votos de Bom Ano enviados pela Deize, pela Cacau e pela Lilia.
Feliz 2005, sempre blogando...