quarta-feira, julho 30, 2003

Calor


Será d'eu ou do dia?

Hoje o calor assentou sobre Lisboa como um véu. Não. Como uma almofada. Uma almofada que se deixa cair sobre os objetos e a eles se molda.
O calor se transforma no negativo da cidade. Se transforma no molde da cidade. Réplicas podem sair daqui, vendidas no mercado e com a indicação na etiqueta dizendo: “Made in China”.

Hoje o calor é um afago. Um afago quente. Como um corpo que se encosta no seu corpo. Um corpo que te abraça e em ti se enrosca e em teu ouvido sussurra palavras que vão diretas à tua pele.A pele pede pele. Uma pele quente e seca, macia. O calor é macio.

Você abre a mão, fecha a mão, e toca o calor. Encerra o calor em sua mão. Abre a mão e ele fica ali, na sua frente. Você olha o calor. Vê as coisas através do calor. As coisas mudam de cor. Se suavizam. Se arredondam. O calor é redondo.
Arredonda as coisas. Encurva as coisas. As coisas se encurvam como um peito que sobe quando respira, quando inspira. As coisas inspiram. As coisas respiram. As coisas vivem. As coisas se vivem.
Se se vivem, ainda são coisas? Pois é, o calor que tem destas coisas…

E hoje eu quero sentir esse calor redondo, macio, de corpo de mulher…


Vou pra rua!

Més Catalunya


Ou seja, mais Catalunha. Desde já aviso que não tentarei ser imparcial. Quando se gosta, se gosta mesmo...
Não falarei de toda a Catalunha, claro. E isto porque não conheço toda a Catalunha. Fico por Barcelona e dou uma passadinha por Montserrat (a Montanha Mágica).

Alguém leu o Veríssimo deste domingo? O tabaco é o mote. Claro que vai mais além, mas por coincidência também o é para um cronista do "Avui" (palavra que quer dizer hoje) J. J. Navarro Arisa. (O "Avui" é um diário barcelonês). Para se aperceberem de como é o catalão escrito, aqui vai uma pequena transcrição [o mote são as mensagens de perigo que estão cada vez maiores nos maços de cigarros...]:
"(...) A un altre nivell, estrictament personal i subjetiu, la mesura em desplau i em desagrada profundament. Em nego en rodó a anar pel món amb un paquetet que diu en lletres molt grans que me matarà, me farà partir del cor, perjudicarà el fetus si em quedo prenyat, me reduirà el flux espermàtic i em depararà no només l'oprobi social, sinó una lenta, llarga i bruta agonia seguida d'una mort sòrdida. (...) A més de desagradable, em sembla injust. Si no vaig errat, ningú proposa pintar els cotxes amb grans lletres que diguin "la conducció mata", "els accidents i les imprudències al volant provoquen milers de morts i mutilats" o coses per l'estil (...)."
Que tal?Deu pra entender alguma coisa? O cronista acaba concluindo que vai passar a usar cigarreira, seja de artesanato seja artigo de joalheria, só para não ter que suportar as mensagens...

Em Barcelona, faz-se uma coisa única no Mundo: ramblear. E ramblear é passear nas Ramblas. Na prática, é uma longa avenida, que sobe desde o mar (Rambla de Mar) até à Avenida Diagonal (Rambla Catalunya). A Avenida (ou Avinguda) Diagonal divide, diagonalmente, o L'Eixample em direito e esquerdo e corta a cidade no sentido leste-oeste. Mas tudo isto são alguns quilômetros, de modo que ramblear mesmo é nas Ramblas junto à zona medieval da cidade e que parte da Plaça de Catalunya em direção ao mar. Logo no início, junto à Praça, existe uma grande fonte, de ferro fundido e torneiras em bronze (espero não estar a trocar os metais...), a que dão o nome de Font des Canaletes. Diz a tradição que, quem beber dessa água, regressa a Barcelona. Eu, sempre que vou ramblear, bebo dessa água. O sabor é meio metálico mas, só para ter a justificação para o meu regresso àquela cidade, é como se fosse "champagne"...

Como tá ficando tarde (quase quatro da manhã e o despertador toca às oito...), interrompo agora para depois contar o que se vê pelas Ramblas...

terça-feira, julho 29, 2003

Músicas


Ainda não consigo colocar músicas neste blog, de outro modo estaria rodando sem parar a música que está "consumindo" o laser do meu toca-CD's. Uma música que é um convite. Muito jazzy. Está escondida no CD 2 da compilação "chill:brazil2", organizado pela Joyce. Ramatis com a voz de Rose Max: "Céu Lilás".

"Por quê tanta atenção pra coisas tolas?
Por quê tanto insistir na contramão?
Por quê sempre essa cara de pergunta?
Solte um pouco, pegue em minha mão.

Pra quê todo esse gosto de tristeza?
Pra quê toda essa pôse de pavão?
Pra quê seguir comprando a alegria?
Solte um pouco
embarque na canção

Vem comigo...
aqui é bom, aqui é paz,
sem perigo, é bom demais...
vem comigo,
no mesmo tom do céu lilás,
se eu consigo,
você é capaz...


É bom demais."

E os japoneses continuam se cruzando no meu caminho. Ainda não escutei (pois, só tou escutando o Céu Lilás...) direito, mas tenho aqui um trabalho de Kaoru Inoue, que deve ser a "cabeça" do coletivo "Chari Chari" (de tema pra tema todos os músicos mudam exceto o Inoue). São os sons do mundo, sentidos e transmitidos por este cidadão lá das terras do Sol Nascente. E o trabalho gráfico é uma coisa linda de se ver. Folheando o livrinho, descubro o poema da terceira faixa, "Dil Ki Dharkan":

"Look into your heart and you'll discover a rainbow
Close your eyes and you'll see
All the colours of the world
In harmony

Listen to your heart and you'll discover a rhythm
It's the rhythm of your soul
It's the rhythm of your soul

in the place"

é necessária a tradução?

Catalunya és Catalunya


Esqueçam Espanha. Existe um território com esse nome e onde dizem que se fala espanhol. Não existe "espanhol", existe castelhano. E Espanha é um conjunto de regiões: Galiza, onde se fala galego (e que, do galaico-português, fez nascer o português), País Basco (aqui é fácil entender, né?) onde se vai falando basco cada vez mais, Catalunha, onde se fala catalão. Catalão também se fala na região de Valência e nas ilhas Baleares. Assim, Espanha é um dominó por vezes complicado, mas que se vai mantendo unido sob a coroa de um rei . E como tá ficando tarde, amanhã (espero), continuo neste devaneio...

segunda-feira, julho 28, 2003

E como dizem os Tribalistas no início do seu CD, "Bom dia, Comunidade"!!!
A mala já está aberta mas ainda não está desfeita... mas passei por aqui para dar um "alô" e preparar o mundo para os blogs que se irão seguir, "numa tela perto de você", muito em breve...
Apesar de se estar muito bem em Barcelona (mesmo com o calor, mas mais suportável que na Alemanha), estou de regresso a casa...
Até breve.

terça-feira, julho 22, 2003

Mais um blog da Alemanha. Enquanto der, vou blogando. O dia comecou com chuva, ou melhor, choveu durante toda a noite e continuou chovendo de manha. Temperatura bem mais baixa que no dia anterior mas... a chuva parou, o sol chegou, a temperatura subiu, a humidade voltou e a tarde voltou a colar-se ao corpo...
Foi dia de shopping ou, como dizem aqui, de "zentrum". Mas afinal, quem ve um, ja viu todos...
Jantar, em familia, junto a um lago artificial num complexo de diversoes a que chamam "Miramar". Contingencias de quem tem o mar a centenas de quilometros...

segunda-feira, julho 21, 2003

Aqui estou eu blogando de Weinheim, sul da Alemanha. Por aqui, um calor de morte... e a respectiva humidade. Nao adianta tomar duche, porque voce se sente sempre humido, mesmo. Felizmente, desde as dez da noite que uma trovoada, acompanhada de alguma chuva, estah tentando desanuviar o ambiente... Como estarah amanha ao acordar? Por aqui, muita vinha (eu que julgava que por aqui so havia cerveja...) e algum milho. As aldeias sao simpaticas e voce nunca percebe bem onde esta (eu, pelo menos, tenho dificuldade em perceber se estou num suburbio de grande cidade ou numa pequena aldeia...). Darei mais pormenores depois, porque esta ligacao estah leeeeeennnnnttttaaaaaaaaaaaa...

sexta-feira, julho 18, 2003

de partida


Ainda não tenho a mala pronta, mas não consegui resistir e senti a necessidade compulsiva de dizer que ainda não tinha a mala pronta... Mas não irei perder o avião! Que os ventos sejam de feição e que os pneumáticos do avião resistam ao choque da aterrissagem...

quinta-feira, julho 17, 2003

Viagens


Pouco a pouco, vou descobrindo que blogar não é apenas escrever. Blogar é fazer a nossa viagem, a nossa vadiagem (alô Lília) pelos blogs daqueles que de um modo ou outro mais nos tocam. E esses blogs nos tocam dos mais diversos modos: é o conforto de ler algo bem escrito, é o humor, é o amor, é o desamor, é a crítica, é... é tudo o que te dá gosto. Se vai tornando um vício (aqui está mais um território para análises sociológicas). Alturas há, depois, em que começamos a notar ausências (ué? hoje não "postou" nada? tá doente? tem vírus no computador? haverá outro problema?). Tudo isto pra dizer que nos próximos dias estarei de viagem. E que no regresso contarei as novidades.

terça-feira, julho 15, 2003

cigarro após cigarro, a cinza se vai acumulando no largo cinzeiro de vidro, como que criando uma pira funerária sobre a secretária. cadáveres de beatas se empilham como corpos antes amortalhados, agora apenas queimados. a cada pequeno contratempo se acende mais um cigarro, numa tentaiva de ocultar a incapacidade de resolução do problema atrás do fumo. até a tela do computador parece mais longínqua atrás dessa cortina de fumo. das colunas de som sai a voz frágil de stina nordenstam. tabela após tabela, vou cruzando linhas com colunas, tentando entender o que escrevi não faz mais de cinco minutos. queria fazer reset na minha memória e renascer como outra pessoa. vou teclando sem olhar pra tela e quando leio o resultado as frases não fazem sentido. serei eu mesmo quem está escrevendo? olho pela minha janela e vejo o rio correndo. o rio da minha aldeia. como se eu tivesse aldeia. como se eu tivesse rio. acendo mais um cigarro e o fumo se vai espalhando como o gênio saindo da lâmpada. mas aqui não tem nem lâmpada nem gênio. só eu. que devo ter atingido um estado especial de invisibilidade. eu me vejo mas mais ninguém me vê. saí agora ao corredor e passaram por mim como se fosse peça de mobília. alôooo? regresso a meus quadros e tabelas. how i hate this! nada parece fazer sentido. bah! se a nicotina não está funcionando é porque o défice deve ser de cafeína mesmo. venha mais um café. a que se segue um cigarro, óbvio. um cigarro óbvio. que se queima e se junta a todos os outros cigarros. cigarro após cigarro, a cinza se vai acumulando...

Me apresentando


Permitam que me apresente, se bem que não tenha eu feito outra coisa que não seja me ir apresentando aos pouquinhos, mas aqui vai algo em jeito mais formal...

Meu nome é Alex (um ótimo nome: começa por A, o que nas listagens alfabéticas me protege daquelas buscas infrutíferas no meio da lista, para cima, para baixo, até o encontrar, e se escreve do mesmo modo em variadas línguas, apenas com variação no sotaque).

Nasci em Lisboa faz já algum tempo e por aqui tenho vivido, excetuando o período que vivi em Ponta Delgada, na ilha de S.Miguel, Açores, bem no meio do Atlântico (havendo ilhas masculinas e femininas - e isto é uma teoria minha, mas não sei se original - a de S.Miguel é, nitidamente, uma ilha feminina).

Sou um aquariano já do terceiro decanato, o que me dá algumas influências piscícolas (eheheheh), quero dizer, piscianas, e com ascendente em sagitário. Para quem se liga nessas coisas, fica a informação.

Quando caíu a ditadura (parece que temos uma tendência para essas coisas,né?), em Abril de '74 (a chamada Revolução dos Cravos), ainda era criança. Nessa altura, parece que a Utopia iria virar realidade... Até Chico Buarque cantou isso em "Tanto mar" (canção que teve duas versões, tendo sido a de 75, a primeira, censurada... só teve edição em Portugal). Mas parece que os cravos murcharam de vez...

Gostando de viajar, ainda não conheço tudo quanto gostaria de conhecer. O que é bom. Assim, ainda sobra algo como sonho de destino (não como destino de sonho, que é algo diferente...). O local mais a norte onde estive foi em Tromso, na Noruega, acima do Círculo Polar Ártico, onde vivi a estranha experiência de ter dias sem noite. Para ocidente, só atravessei o Atlântico uma vez (bem, duas, contando com o regresso, claro) para ir até ao Canadá. A sul, já estive sobre o Equador, mas não cheguei a ver o Rei dos Mares (isto é, não desci mais para sul). A oriente, já estive em Macau e Hong Kong. Dentro desses limites, tenho circulado basicamente pela Europa e por África. Nessas andanças, uns locais me marcaram mais que outros. Veneza me deixou uma marca profunda. Dublin também, mas por motivos distintos.

Como deu já para perceber, para quem tem lido meus blogs, claro, gosto de música e poesia. Tenho agora uma dificuldade na construção da frase que se segue: devo dizer "os meus poetas preferidos é Fernando Pessoa" ou "o meu poeta preferido são Fernando Pessoa"(eheheh)? Isto porque a minha preferência poética vai para Fernando Pessoa e todas as suas máscaras (engraçado: persona, que deu pessoa em português quer dizer máscara) heteronímicas, semi-heteronímicas e afins.

O cinema também desperta a minha curiosidade. O cinema mudo me fascina e gosto do jogo da luz e das sombras do cinema expressionista alemão (por aqui me fico ou ainda me acusam de estar metido a intelectual...)

Último pormenor. Com qualquer objecto escrevente na mão, e sobre qualquer superfície "escrevível", tenho tendência para garatujar letras e caras. Especialmente enquanto telefonando.

Para concluir, dois curtos poemas de Mário de Sá-Carneiro, outra das minhas preferências. Amigo de Fernando Pessoa, tendo colaborado com ele na revista Orpheu, se suicidou em Paris (em 1916, com 26 anos).

                “7


Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.”


“VISLUMBRE

A horas flébeis, outonais-
Por magoados fins de dia-
A minha Alma é água fria
Em ânforas de Ouro... entre cristais...”

domingo, julho 13, 2003

Alguns poemas



Os poemas que se seguem não têm endereço. Já o tiveram, um dia. Hoje, não têm mais.
São de um poeta que se chama Andrade. Mas que não é Carlos Drummond. É Eugénio. Eugénio de Andrade. Felizmente, ainda partilhando o mundo connosco. Felizmente, ainda podendo escrever mais poemas.
Estes, são poemas de amor, são poemas luminosos. Porque em dias cinzentos, por vezes, a luz dum poema pode brilhar mais que qualquer candeeiro aceso...

"Espera

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça."


"[sem título]

Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
o teu sorriso puro,
a tua graça animal.

Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
o mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.

Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados."


"Vaguíssimo retrato

Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -

se a luz é tanta,
com se pode morrer?"


"Arte de navegar

Vê como o verão
subitamente
se faz água no teu peito,

e a noite se faz barco,

e minha mão marinheiro."


"O sorriso

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."

É um génio de Andrade?

sábado, julho 12, 2003

Calor



Todas as cidades têm uma luz própria, especial. Que vai variando ao longo do ano. Que vai variando ao longo do dia.
Veneza, por exemplo, é uma dessas cidades. Antes de mais, aqui afirmo que Veneza é uma das cidades que não existe. Como é que pode existir assim uma cidad,e sobre as águas? Não é normal... e como não é normal, não existe. É imaginária. Mas não é a única...

Lisboa é outra das cidades com a sua luz especial. Hoje, por exemplo. Está calor. Muito calor (talvez 38ºC). Uma neblina fina espalha-se por toda a cidade. Cobre toda a cidade. O Tejo se perde nessa neblina e não tem horizonte, não tem fim. A outra margem do rio se torna difusa, com contornos mal definidos. Na margem de cá, esse véu que tudo cobre parece tornar a cidade evanescente. Mesmo o ruído do tráfego fica mais abafado. Tudo fica mais baço. Tudo se dilui. O azul do céu se torna mais esbranquiçado, mais empalidecido. Até o tempo parece abrandar, se bem que isso seja rapidamente desmentido de cada vez que olhamos para o relógio. E olhando para o longe, a cidade se parece com uma daquelas gravuras, daquelas pinturas chinesas (ou serão japonesas? nunca sei destas coisas...) representando florestas de bambu, na neblina da madrugada.
Mas aqui não há bambu. E a madrugada foi já há muito tempo...

sexta-feira, julho 11, 2003

Coincidências


As coincidências não são fruto do acaso.
Concordando com a frase anterior, isso nos leva à idéia de destino, de fado (o fatum dos latinos). E à idéia de livre arbítrio. Questões metafísicas, portanto. Mas como dizia Álvaro de Campos na Tabacaria, "(...) a metafísica é uma consequência de estar mal disposto (...)”.
Esta introdução porquê? Ora, porque são os pequenos nadas, aqueles pequenos acontecimentos aparentemente sem importância que depois se irão revelar OS acontecimentos.
Recordo-me de um documentário que vi há algum tempo na televisão sobre o avanço dos desertos. Eles funcionam quase como um corpo vivo que vai avançando, lenta e regularmente (e o paradoxo do monte de areia? Pergunta: a partir de que momento temos nós um monte de areia? Um grão de areia não é um monte de areia. Dois grãos de areia não são um monte de areia. Cem grãos de areia são ou não? Afinal, quando é que um monte de areia é um monte de areia? mas voltando ao avanço...). O vento transporta os pequenos grãos de areia. Estes, se vão empilhando uns sobre os outros. Formam um monte. Um grande monte. Mas como é que o vento empurra esse monte? Com um grão de areia!!! Basta um grão de areia, O grão de areia, para que, atingindo o monte um determinado ângulo de inclinação num dos seus flancos, todo o equilíbrio estático seja quebrado. Esse grão de areia, na sua jornada descendente, ao arrastar outros grãos, faz avançar o monte mais alguns milímetros, até que ele atinja novo estado de equilíbrio. E todo o processo se repete novamente. Assim avança o deserto. Com um grão de areia.

Quais são os grãos de areia de nossa vida? Quando é que podemos dizer: esse foi meu grão de areia, essoutro também foi meu grão de areia, esse ali é que deveria ter sido meu grão de areia?

quinta-feira, julho 10, 2003

Pesquisa feita! Horace Silver (ou Tavares da Silva) tinha pai português, originário do arquipélago de Cabo Verde.
Será que as mornas e as coladeras também o influenciaram?

Pré-história...



A acreditar naquilo que li na contra-capa de um CD (não recordo qual...), onde afirmava que a Bossa Nova tinha nascido das influências do samba e do West Coast Jazz sofridas por Tom Jobim e João Gilberto, neste momento estou ouvindo parte da pré-história da Bossa.

Mas... "west coast jazz"? Eu devia ter estado com mais atenção ao Ken Burns' Jazz. Portanto, existiria também um "east coast jazz". E quem estava num lado e no outro? Bem, para o caso, acho que pouco importa. Afinal, o que interessa mesmo é o jazz... Reeditado pela Verve em 1999, este CD tem por nome, guess what, "West Coast Jazz". Estrelando, o padrinho (ou melhor, futuro padrinho) da Bossa: Stan Getz. Gravações originais de 1955 (xiii, já quase meio século e a emoção ainda está toda lá...).

Do alinhamento constam, entre outras músicas, "A night in Tunisia", de Dizzie Gillespie, "Four", de Miles Davis, "Summertime" e "Love is here to stay", de George e Ira Gershwin e "Split kick", de Horace Silver ou, melhor dizendo (se bem estou entendendo a indicação) Horace Ward Martin Tavares Silva...
Ouvindo e gostando desta parte da pré-história...

Pra sair da fossa, só mesmo a Bossa (e esta sua raíz profunda...).

quarta-feira, julho 09, 2003

Não resisti...



Acabei de ler este texto de Luis Fernando Verissimo e não resisti. Tenho que o partilhar... Creio que Verissimo dispensa apresentações. Mesmo que eu o quisesse apresentar, não saberia como. Escreve bem, se lê melhor e é um aconchego para o espírito. Cá vai a estória:

"Sexa

- Pai...
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra «sexo» é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser a «sexa»?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. «Sexo» é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer... Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminio, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. «A palavra» é feminino. Se fosse masculina seria «o pal...»
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos de ficar de olho nesse guri...
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática."

Não é gostoso brincar assim com as palavras?

terça-feira, julho 08, 2003

Vadiando



Vadiando sim, mas apenas pelos blogs. Vadiagem saudável, quando se encontram bons blogs. O que nem sempre acontece. Mas para evitar armadilhas, já descobri parte da solução: os crussificados . Não serão exaustivos, mas nos evitam perdas de tempo.

Nessa minha vadiagem, a escolha tem recaído, essencialmente, sobre blogs escritos em português. Um dia, o português tomará conta da net! (ehehehe) Falando sério, acho que esta nossa língua nos permite devaneios poéticos em torno de temas banais que outras línguas apenas conseguem adivinhar (comparando com o finlandês ou neerlandês, por exemplo...).

Pegando na poesia, Fernando Pessoa é uma presença bem presente (passe a redundância...). E se ele ainda vivesse hoje, (fisicamente claro, porque ele continua bem vivo) por certo teria dezenas de blogs: para si, para seus heterónimos, para seus semi-heterónimos, para suas divagações esotéricas, para seus mapas astrais, para seus amigos... seria a rede dentro da rede.

Não sei bem porquê, mas tenho tido uma preferência especial pelas "vozes" femininas que por aqui vão bloggando. Será uma questão de sensibilidade? Será curiosidade masculina? Serão os temas? Não sei. Mas estou gostando...

E como não existe nenhum "Manual do Bloggista", vou aproveitando as dicas que vejo por aí. Me deparei agora com "21+1 pontos para um weblog melhor" na cafeína. Tudo lido e ponderado, creio que se podem reduzir a duas palavras: bom senso. Mas fica a referência com todos os pontos.

O título ali em cima não é tão inocente assim: tenta ser uma homenagem a um dos bloggs que regularmente visito. Ver New York através dos olhos femininos de uma cearense que aprendeu "que ficar atenta é muito melhor do que forte" se tem mostrado uma experiência recompensadora. Assim, há quem vá vadiando por Manhattan enquanto eu vou vadiando pelos blogs...

Mas antes de acabar, que tenho eu aprendido? Para além de ir "conhecendo" outras pessoas, outras visões do mundo, me vou deparando com modos diferentes de encarar esta aventura. Para alguns, é um diário, onde se vão registando emoções, alegrias e desgostos, sonhos, desejos, concretizações. Para outros, é uma gaveta para onde atiram o produto da sua escrita. Gaveta deixada aberta e não mais aquela gaveta fechada a sete chaves e que ninguém jamais poderia abrir. Outros ainda entendem este território como prolongamento da sua actividade (os profissionais): jornalistas, políticos, escritores, já com nome firmado na praça, e que prolongam aqui a sua forma de pensar para melhor sentirem as reacções de quem os lê. É também um seu espaço de libertação, pois não têm que se sujeitar a outros critérios editoriais que não os seus. Temos ainda aqueles para quem o blog é espaço da bobagem e da bobeira. Na vez de escreverem bilhetinhos para passar ao amiguinho(a), blogam. Temos ainda aqueles que, talvez por timidez, lentamente se vão mostrando porque o seu grande desejo é comunicar, qualquer que seja o jeito. Substituem a garrafa do náufrago pelo seu blog.

E eu? Tirando os profissionais, acho que sou um pouco de todos eles...

Blog to live and live to blog?

sábado, julho 05, 2003

Que bão... alguém tá me lendo...
E a música vai rolando... "Chet Baker sings". "My Funny Valentine". Dá arrepio...

Agulha



Se ainda tivéssemos que colocar agulha sobre o CD para ouvir as músicas, algumas já estariam tão gastas que seria mais o ruído de batata fritando que o som da própria música. Comecei esta prosa porque estou ouvindo um tema gravado por Cazuza e Bebel Gilberto, "Preciso dizer que te amo". As coisas mais simples são as mais belas. Não é a riqueza poética que atrai. É o sentimento que se adivinha (ou julga adivinhar) sob a música e sob as palavras. E oiço esta música uma e outra e outra e outra vez... E me imagino vivendo esse momento em que duas pessoas se olham e, de repente, descobrem que se amam... E, sendo a felicidade deles, fico também um pouco mais feliz. E algo que ajuda a traduzir esse momento mágico é precisamente o fato de ser uma gravação feita no momento, sem qualquer tratamento, com todo o ruído do estúdio, com o “por favor não façam barulho no ambiente. Muito obrigado…” É a simplicidade do violão (de Dé), a simplicidade das palavras, o “diálogo” de Bebel e Cazuza.
E nesta estória de discos, lembro também “Por perto”, um tema dos Pato Fu. Canta a Fernanda Takai que “Num velho disco a vida se desfaz/ em poucos minutos./ Pra onde aquele tempo te levou/ também vou” e ainda “naquele empoeirado LP/ encontro você”. É. A rodelinha prateada que gira, gira, gira, escondida, rouba a magia da fina agulha “lavrando” o negro vinil, naquela espiral sem fim.

sexta-feira, julho 04, 2003

Valha-nos a Bossa para suportar as contrariedades digitais...
Mas continuo sem alcançar a "ironia", as flores no jardim parecem ter as pétalas recolhidas, enfim... venha mais Bossa.

Sai da fossa... ouve Bossa!



Por vezes, parece que ando nestas coisas da música um pouco às avessas. O andar nestas coisas da música limita-se simplesmente a ouvi-la e a escutá-la. (São duas coisas diferentes, pelo menos do meu ponto de vista. Apesar de utilizarem o mesmo órgão "tradutor" - entenda-se o ouvido - o processamento é diferente. São dois níveis de entendimento: um mais emocional e outro mais racional). Mas porquê às avessas? Não é por certo ouvir as músicas de trás para a frente (se bem que nalguns temas seja uma experiência interessante, havendo até quem descubra mensagens mais ou menos subliminares). É o ouvir determinados tipos de música que, de um modo ou outro, foram beber a diferentes raízes. É, então, partir dos ramos para a raíz.

Remeto-me agora para o título. Estou agora numa onda Bossa Nova. E aqui tenho seguido de Oriente para Ocidente. Foram os japoneses que me trouxeram de novo até à Bossa. Mas antes de me trazerem à Bossa, levaram-me até ao Jazz. (eu tenho mesmo andado às arrecuas…)

Hip Hop, Acid Jazz, Drum’n’Bass, muita samplagem, muita música retalhada e depois reconstruída (muito patchwork…). Garimpagem pelo vinil transformado depois em álbum de recortes, como aquelas cartas de pedido de resgate feitas a partir das letras dos jornais e coladas em papel manteiga… Foram todos os sampladores que, pegando em pedaços de temas, recriaram os mesmos ou criaram outros, mas mantendo o mesmo espírito, que me foram guiando. Mas de que japoneses falo? United Feature Organization e Silent Poets, por exemplo. Também os St. Germain. Certo, são franceses, mas para mim, continuam a oriente (eeheheheh). Mas não apenas eles, claro. Os Us3 também deram um bom empurrão. Gostando destes produtos elaborados, porque motivo não ir até ao original?

Foi depois o trabalho de começar a olhar para as discográficas como repositório de todos esses testemunhos originais. Destaco duas, que creio serem AS etiquetas do Jazz: Blue Note e Verve.

Havendo muitos pontos de contato, muita promiscuidade (no bom sentido, claro) nas linguagens da Bossa e do Jazz, fácil se tornou me aproximar das raízes da Bossa.

É claro que não era ignorante de nomes como os de Tom Jobim ou João Gilberto, mas quase que se resumiam à “Garota de Ipanema”, “Insensatez” e pouco mais. Foi com a edição de “Red Hot and Rio” (e foi já em 1996...), onde a Bossa foi “reconstruída”, e com a edição quase simultânea de uma colectânea da Verve (Nova Bossa – Red Hot on Verve) que a coisa ficou mais séria. Iniciei a minha busca de mais temas e mais autores.

Esse tem sido o meu exercício dos últimos tempos. Com as vantagens das novas tecnologias e com a sêde comercial de realizar lucro (sim, porque quando dizem que é para "resgatar ao esquecimento", isso não passa de conversa para boi dormir...), tenho encontrado edições de trabalhos originalmente gravados entre nas décadas de 60 e 70. Destaco aqui o trabalho feito pela Verve. Claro que eu não estou fazendo nenhuma história da Bossa Nova. Estou apenas em busca de memórias que não tenho de momentos que eu nunca vivi.

Claro que atualmente continuamos com o Japão nesta onda: com os herdeiros de Jobim, temos Sakamoto e, agora, temos também Jun Miyake, num trabalho feito em colaboração com Vinícius Cantuária e Arto Lindsay. O CD tem o título de “Innocent Bossa in the mirror”, sendo produzido por Miyake e Lindsay. Nas palavras de Miyake, este CD nasceu do encontro dos três em Tóquio, e foi como se eles fossem mensageiros, em missão, estando possuídos por uma Musa.

Ainda não disse como por vezes alguns temas de Bossa se parecem com o fado, tanto na simplicidade como na temática (o amor amante, o amor sofrido), mas isso talvez seja forçar demais a nota...

Abaixo a fossa, viva a Bossa!

quinta-feira, julho 03, 2003

Pois o globber.com.br está em manutenção.
A "ironia", também não existe.
Endereço após endereço, todos os acessos me vão sendo recusados.
Quem é que não existe? Eu ou os endereços?
Solidão na net é terrível...

quarta-feira, julho 02, 2003

Mais um pequeno pormenor. Como ninguém me lê aqui, este é um ótimo lugar para guardar segredos...
Algo se passa com o blogger .com.br... Crio um novo blog, vou em busca do endereço criado, e nada.
Vou em busca "de um pouco de ironia" (private joke) e o blog que estava lá, já não está... Lady Vanishes... Que se está passando abaixo do Equador?

terça-feira, julho 01, 2003

Para acabar (de vez) com a Cultura...



Estas "pérolas" me chegaram via correio electrônico. Como convém levar um susto de quando em vez, aqui seguem...

Todas as afirmações foram retiradas de diversas provas globais (que permitem o acesso à Universidade):

a.. "A respiração anaeróbia é a respiração sem ar que não deve passar de três minutos." - Biologia

b.. "Antes de ser criada a Justiça, o mundo era injusto." - História

c.. "O objectivo de uma Sociedade Anónima é ter muitas fábricas desconhecidas." - História

d.. "As plantas distinguem-se dos animais por só respirarem à noite." - Biologia

e.. "Os crustáceos fora de água respiram como podem." - Biologia

f.. "Na Grécia a democracia funcionava muito bem porque os que não estavam de acordo envenenavam-se." - História

g.. "As múmias tinham um profundo conhecimento de anatomia." - História

h.. "Caracter sexual secundário são as modificações morfológicas sofridas por um indivíduo após manter relações sexuais." - Biologia

i.. "A arquitectura gótica notabilizou-se por fazer edifícios verticais." - História

j.. "A insónia consiste em dormir ao contrário." - Biologia

k.. "Quando um animal irracional não tem água para beber, só sobrevive se for empalhado." - Biologia

l.. "O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia."- Biologia

m.. "Os ruminantes distinguem-se dos outros animais porque o que comem, comem duas vezes." - Biologia

n.. "A febre amarela foi trazida da China por Marco Polo." - História

o.. "A harpa é uma asa que toca." - História

p.. "As aves têm na boca um dente chamado bico." - Biologia

q.. "O Sol dá-nos luz, calor e turistas." - Biologia

r.. "A principal função da raiz é enterrar-se." - Biologia

s.. "O petróleo apareceu há muitos séculos, numa época em que os peixes afogavam-se dentro de água." - Geografia

t.. "O problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades." - Geografia

u.. "Péricles foi o principal ditador da democracia Grega." - História

v.. "Os Egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor." - História

w.. "Terramoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas." - Geologia

x.. "O vento é uma imensa quantidade de ar." - Biologia

y.. "Lavoisier foi guilhotinado por ter inventado o oxigénio." - Química