sexta-feira, julho 04, 2003

Sai da fossa... ouve Bossa!



Por vezes, parece que ando nestas coisas da música um pouco às avessas. O andar nestas coisas da música limita-se simplesmente a ouvi-la e a escutá-la. (São duas coisas diferentes, pelo menos do meu ponto de vista. Apesar de utilizarem o mesmo órgão "tradutor" - entenda-se o ouvido - o processamento é diferente. São dois níveis de entendimento: um mais emocional e outro mais racional). Mas porquê às avessas? Não é por certo ouvir as músicas de trás para a frente (se bem que nalguns temas seja uma experiência interessante, havendo até quem descubra mensagens mais ou menos subliminares). É o ouvir determinados tipos de música que, de um modo ou outro, foram beber a diferentes raízes. É, então, partir dos ramos para a raíz.

Remeto-me agora para o título. Estou agora numa onda Bossa Nova. E aqui tenho seguido de Oriente para Ocidente. Foram os japoneses que me trouxeram de novo até à Bossa. Mas antes de me trazerem à Bossa, levaram-me até ao Jazz. (eu tenho mesmo andado às arrecuas…)

Hip Hop, Acid Jazz, Drum’n’Bass, muita samplagem, muita música retalhada e depois reconstruída (muito patchwork…). Garimpagem pelo vinil transformado depois em álbum de recortes, como aquelas cartas de pedido de resgate feitas a partir das letras dos jornais e coladas em papel manteiga… Foram todos os sampladores que, pegando em pedaços de temas, recriaram os mesmos ou criaram outros, mas mantendo o mesmo espírito, que me foram guiando. Mas de que japoneses falo? United Feature Organization e Silent Poets, por exemplo. Também os St. Germain. Certo, são franceses, mas para mim, continuam a oriente (eeheheheh). Mas não apenas eles, claro. Os Us3 também deram um bom empurrão. Gostando destes produtos elaborados, porque motivo não ir até ao original?

Foi depois o trabalho de começar a olhar para as discográficas como repositório de todos esses testemunhos originais. Destaco duas, que creio serem AS etiquetas do Jazz: Blue Note e Verve.

Havendo muitos pontos de contato, muita promiscuidade (no bom sentido, claro) nas linguagens da Bossa e do Jazz, fácil se tornou me aproximar das raízes da Bossa.

É claro que não era ignorante de nomes como os de Tom Jobim ou João Gilberto, mas quase que se resumiam à “Garota de Ipanema”, “Insensatez” e pouco mais. Foi com a edição de “Red Hot and Rio” (e foi já em 1996...), onde a Bossa foi “reconstruída”, e com a edição quase simultânea de uma colectânea da Verve (Nova Bossa – Red Hot on Verve) que a coisa ficou mais séria. Iniciei a minha busca de mais temas e mais autores.

Esse tem sido o meu exercício dos últimos tempos. Com as vantagens das novas tecnologias e com a sêde comercial de realizar lucro (sim, porque quando dizem que é para "resgatar ao esquecimento", isso não passa de conversa para boi dormir...), tenho encontrado edições de trabalhos originalmente gravados entre nas décadas de 60 e 70. Destaco aqui o trabalho feito pela Verve. Claro que eu não estou fazendo nenhuma história da Bossa Nova. Estou apenas em busca de memórias que não tenho de momentos que eu nunca vivi.

Claro que atualmente continuamos com o Japão nesta onda: com os herdeiros de Jobim, temos Sakamoto e, agora, temos também Jun Miyake, num trabalho feito em colaboração com Vinícius Cantuária e Arto Lindsay. O CD tem o título de “Innocent Bossa in the mirror”, sendo produzido por Miyake e Lindsay. Nas palavras de Miyake, este CD nasceu do encontro dos três em Tóquio, e foi como se eles fossem mensageiros, em missão, estando possuídos por uma Musa.

Ainda não disse como por vezes alguns temas de Bossa se parecem com o fado, tanto na simplicidade como na temática (o amor amante, o amor sofrido), mas isso talvez seja forçar demais a nota...

Abaixo a fossa, viva a Bossa!

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