sexta-feira, julho 11, 2003

Coincidências


As coincidências não são fruto do acaso.
Concordando com a frase anterior, isso nos leva à idéia de destino, de fado (o fatum dos latinos). E à idéia de livre arbítrio. Questões metafísicas, portanto. Mas como dizia Álvaro de Campos na Tabacaria, "(...) a metafísica é uma consequência de estar mal disposto (...)”.
Esta introdução porquê? Ora, porque são os pequenos nadas, aqueles pequenos acontecimentos aparentemente sem importância que depois se irão revelar OS acontecimentos.
Recordo-me de um documentário que vi há algum tempo na televisão sobre o avanço dos desertos. Eles funcionam quase como um corpo vivo que vai avançando, lenta e regularmente (e o paradoxo do monte de areia? Pergunta: a partir de que momento temos nós um monte de areia? Um grão de areia não é um monte de areia. Dois grãos de areia não são um monte de areia. Cem grãos de areia são ou não? Afinal, quando é que um monte de areia é um monte de areia? mas voltando ao avanço...). O vento transporta os pequenos grãos de areia. Estes, se vão empilhando uns sobre os outros. Formam um monte. Um grande monte. Mas como é que o vento empurra esse monte? Com um grão de areia!!! Basta um grão de areia, O grão de areia, para que, atingindo o monte um determinado ângulo de inclinação num dos seus flancos, todo o equilíbrio estático seja quebrado. Esse grão de areia, na sua jornada descendente, ao arrastar outros grãos, faz avançar o monte mais alguns milímetros, até que ele atinja novo estado de equilíbrio. E todo o processo se repete novamente. Assim avança o deserto. Com um grão de areia.

Quais são os grãos de areia de nossa vida? Quando é que podemos dizer: esse foi meu grão de areia, essoutro também foi meu grão de areia, esse ali é que deveria ter sido meu grão de areia?

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