terça-feira, julho 15, 2003

cigarro após cigarro, a cinza se vai acumulando no largo cinzeiro de vidro, como que criando uma pira funerária sobre a secretária. cadáveres de beatas se empilham como corpos antes amortalhados, agora apenas queimados. a cada pequeno contratempo se acende mais um cigarro, numa tentaiva de ocultar a incapacidade de resolução do problema atrás do fumo. até a tela do computador parece mais longínqua atrás dessa cortina de fumo. das colunas de som sai a voz frágil de stina nordenstam. tabela após tabela, vou cruzando linhas com colunas, tentando entender o que escrevi não faz mais de cinco minutos. queria fazer reset na minha memória e renascer como outra pessoa. vou teclando sem olhar pra tela e quando leio o resultado as frases não fazem sentido. serei eu mesmo quem está escrevendo? olho pela minha janela e vejo o rio correndo. o rio da minha aldeia. como se eu tivesse aldeia. como se eu tivesse rio. acendo mais um cigarro e o fumo se vai espalhando como o gênio saindo da lâmpada. mas aqui não tem nem lâmpada nem gênio. só eu. que devo ter atingido um estado especial de invisibilidade. eu me vejo mas mais ninguém me vê. saí agora ao corredor e passaram por mim como se fosse peça de mobília. alôooo? regresso a meus quadros e tabelas. how i hate this! nada parece fazer sentido. bah! se a nicotina não está funcionando é porque o défice deve ser de cafeína mesmo. venha mais um café. a que se segue um cigarro, óbvio. um cigarro óbvio. que se queima e se junta a todos os outros cigarros. cigarro após cigarro, a cinza se vai acumulando...

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