Calor
Todas as cidades têm uma luz própria, especial. Que vai variando ao longo do ano. Que vai variando ao longo do dia.
Veneza, por exemplo, é uma dessas cidades. Antes de mais, aqui afirmo que Veneza é uma das cidades que não existe. Como é que pode existir assim uma cidad,e sobre as águas? Não é normal... e como não é normal, não existe. É imaginária. Mas não é a única...
Lisboa é outra das cidades com a sua luz especial. Hoje, por exemplo. Está calor. Muito calor (talvez 38ºC). Uma neblina fina espalha-se por toda a cidade. Cobre toda a cidade. O Tejo se perde nessa neblina e não tem horizonte, não tem fim. A outra margem do rio se torna difusa, com contornos mal definidos. Na margem de cá, esse véu que tudo cobre parece tornar a cidade evanescente. Mesmo o ruído do tráfego fica mais abafado. Tudo fica mais baço. Tudo se dilui. O azul do céu se torna mais esbranquiçado, mais empalidecido. Até o tempo parece abrandar, se bem que isso seja rapidamente desmentido de cada vez que olhamos para o relógio. E olhando para o longe, a cidade se parece com uma daquelas gravuras, daquelas pinturas chinesas (ou serão japonesas? nunca sei destas coisas...) representando florestas de bambu, na neblina da madrugada.
Mas aqui não há bambu. E a madrugada foi já há muito tempo...
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