sábado, julho 05, 2003

Agulha



Se ainda tivéssemos que colocar agulha sobre o CD para ouvir as músicas, algumas já estariam tão gastas que seria mais o ruído de batata fritando que o som da própria música. Comecei esta prosa porque estou ouvindo um tema gravado por Cazuza e Bebel Gilberto, "Preciso dizer que te amo". As coisas mais simples são as mais belas. Não é a riqueza poética que atrai. É o sentimento que se adivinha (ou julga adivinhar) sob a música e sob as palavras. E oiço esta música uma e outra e outra e outra vez... E me imagino vivendo esse momento em que duas pessoas se olham e, de repente, descobrem que se amam... E, sendo a felicidade deles, fico também um pouco mais feliz. E algo que ajuda a traduzir esse momento mágico é precisamente o fato de ser uma gravação feita no momento, sem qualquer tratamento, com todo o ruído do estúdio, com o “por favor não façam barulho no ambiente. Muito obrigado…” É a simplicidade do violão (de Dé), a simplicidade das palavras, o “diálogo” de Bebel e Cazuza.
E nesta estória de discos, lembro também “Por perto”, um tema dos Pato Fu. Canta a Fernanda Takai que “Num velho disco a vida se desfaz/ em poucos minutos./ Pra onde aquele tempo te levou/ também vou” e ainda “naquele empoeirado LP/ encontro você”. É. A rodelinha prateada que gira, gira, gira, escondida, rouba a magia da fina agulha “lavrando” o negro vinil, naquela espiral sem fim.

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