quarta-feira, julho 30, 2003

Calor


Será d'eu ou do dia?

Hoje o calor assentou sobre Lisboa como um véu. Não. Como uma almofada. Uma almofada que se deixa cair sobre os objetos e a eles se molda.
O calor se transforma no negativo da cidade. Se transforma no molde da cidade. Réplicas podem sair daqui, vendidas no mercado e com a indicação na etiqueta dizendo: “Made in China”.

Hoje o calor é um afago. Um afago quente. Como um corpo que se encosta no seu corpo. Um corpo que te abraça e em ti se enrosca e em teu ouvido sussurra palavras que vão diretas à tua pele.A pele pede pele. Uma pele quente e seca, macia. O calor é macio.

Você abre a mão, fecha a mão, e toca o calor. Encerra o calor em sua mão. Abre a mão e ele fica ali, na sua frente. Você olha o calor. Vê as coisas através do calor. As coisas mudam de cor. Se suavizam. Se arredondam. O calor é redondo.
Arredonda as coisas. Encurva as coisas. As coisas se encurvam como um peito que sobe quando respira, quando inspira. As coisas inspiram. As coisas respiram. As coisas vivem. As coisas se vivem.
Se se vivem, ainda são coisas? Pois é, o calor que tem destas coisas…

E hoje eu quero sentir esse calor redondo, macio, de corpo de mulher…


Vou pra rua!

Sem comentários: