domingo, setembro 14, 2003

Noite


Hoje anoiteceu mais cedo em Lisboa.
Aos poucos, no seu caminho para poente, o sol foi mudando de cor. Empalideceu primeiro. Depois, foi ficando alaranjado. Até que se tornou vermelho. Como se de seguida se fosse tornar cor de sangue, prenúncio óbvio de calamidades ou pragas inomináveis. Mas não. Foi desaparecendo até ficar completamente obnubilado. Noite. Os candeeiros da rua se acenderam. Mas algumas porções de céu ainda estavam azuis!

Hoje, o fumo dos incêndios de Mafra, a cerca de cincoenta quilómetros de distância, chegou à cidade. Primeiro, o cheiro a queimado. Um cheiro gostoso, de lareira de inverno, mas que num dia quente como o de hoje destoava por completo. Depois, o fumo. De início, como se fosse um fino véu, que mal se percebe mas que vai suavizando as sombras na calçada. Adensa-se depois e é como se fosse nevoeiro. Mas um nevoeiro rasteiro, que nos permite ainda ver o céu azul sobre nossas cabeças. É quando o sol vai baixando no horizonte que se dão as mudanças na sua cor. Vamos sentindo um ardor nos olhos e a cinza vai pairando em nosso redor.
Depois que os candeeiros se acenderam, a cidade ficou com um aspecto irreal. Os cones de luz pareciam estar suspensos, nunca chegando a alcançar o chão. A luz perdia-se no fumo...

Eu pensava que os incêndios já haviam terminado. Engano meu. Como se os dezoito mortos, as dezenas de casas e os cerca de 400 mil hectares floresta e mato (essencialmente, mas também terrenos cultivados) não tivessem sido suficientes, Setembro vai tentar alargar estes números. Espero que a solução para este problema não passe pela transformação do país no prolongamento do Sahara...

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