sábado, setembro 27, 2003

Só.
Hoje, estou me sentindo só. Não por estar sózinho, não. É solidão mesmo. Daquela que dá frio, daquela que dói, daquela que tira a côr das coisas e põe tudo a preto e branco. Não. Põe tudo a preto.
Encontro algum refúgio e companhia nesta tela, neste teclado. E o texto vai surgindo. A preto. Sem outra mão para tocar, meus dedos tocam as teclas. Sem outros olhos para olhar, meus olhos olham pra tela.
Li alguns textos de Clarice Lispector esta tarde, no metrô, quando regressava a casa. Não me senti melhor. Me afundei mais um pouco. Escrita torturada, a dela. Solitária. Pedindo ajuda.
Ecos de casa vazia. Sinto ecos de casa vazia. Ou serei eu que estou vazio? Ou serei eu que tenho os ecos de tão vazio que estou?
Estou num corredor. Longo corredor de paredes nuas. Paredes nuas e portas fechadas. Que está para além das portas? Salas vazias, certamente. Escuras e frias. Como eu. Frias. Frio. Tenho frio. Estou frio. Talvez meu coração tenha parado. Besteira. Se tivesse parado não estaria escrevendo.
E escrevo para esquecer que estou só. Para aquecer o eu que está só.
Me deu um arrepio agora. Será o frio da sala? Ou será o inverno em mim? Parece que a neve está chegando não tarda...

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