terça-feira, setembro 02, 2003

Roubo


Roubaram-me o Tejo... Fiquei sem rio. Minha janela, agora, é uma parede branca.

O meu local de trabalho é junto ao Tejo, em plena Baixa Pombalina (parte da cidade de Lisboa reconstruída após o terramoto e maremoto de 1755). Quando este edifício foi feito, ainda D. Pedro não havia nascido... (claro, nem a corte pensava em ir para o Brasil. Às vezes penso mesmo se Portugal não seguiu junto com a corte, deixando aqui um retângulo na península com gente falando português só pra fazer pirraça aos castelhanos...). Continuando. Tinha a sorte incrível de ter uma janela larga, virada a poente, com vista sobre o rio e a sua margem esquerda. Na versão original, não era uma janela mas sim a bandeira de uma grande porta. Mas em certo momento, decidiram dividir os pisos em altura. De um piso, faziam dois. O material da contrução original vai resistindo, mas os acrescentos não duram tanto. Assim, tornou-se necessário levantar o soalho que já estava bastante ondulado e aqui e ali cedia. Levanta-se o soalho e vão surgindo as traves carcomidas e as madeiras podres. E o pó! Um pó fino que tudo cobre e em tudo pousa. E a tudo se cola: garganta, nariz, pele...
Os gabinetes onde estão levantando o soalho foram evacuados. E os desalojados tiveram de ser espalhados pelo espaço sobrante. Calhou-me uma arrecadação (ou quase). Tenho um porta de entrada (e, felizmente, saída também...). Sobre mim, as lâmpadas vão cintilando, o que me faz doer os olhos. A dor de cabeça não sei se é dos olhos ou se é do nariz (devido ao pó). Resumindo: tá complicado ter gosto em estar aqui. Acho que vou lá fora ver se o sol ainda está brilhando...

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